Saturday, February 05, 2011

Os Quatro Olhos da Escuridão



Os quatro olhos da escuridão me abraçam
Os quatro olhos da escuridão observam meus trôpegos passos
Enquanto dura a espera, a vida se esvai...
O meu cigarro amigo faz cena de me dar abrigo.
Mas meu amor é imenso e não sente culpa.
Anjos coloridos levaram embora meu medo.
Mora no tremor das minhas mãos um chão de incertezas.
E, minh’alma docemente áspera trafega em torrentes de dúvidas.
Sou fêmea e ao passo que envelheço, enloqueço.
E, assim, cresço, numa imensidão sem fim...
Falo dialetos incompreensíveis.
Vejo gnomos em jardins que não existem.
A minha tristeza usa sapatilha e cobra caro sua existência.
A minha tristeza dança em torno de mim.
A minha tristeza se embriaga de perfume vagabundo.
Passeia pela rua com cachorrinho enfeitado de salão.
Esquece a beleza das fotos de Sebastião Salgado.
A minha tristeza não lê jornais, nem vai ao dentista.
Não tem irmão, prima, tio ou avó.
A minha tristeza nunca leu Hermann Hesse.
Não conhece o princípio da dignidade da pessoa humana.
É déspota e tirana.
Não sente fome, sede, frio ou calor.
Não atende telefonemas, não escreve cartas de amor...
Já lhe fechei a porta, mas adentra as janelas.
Rasgou o passaporte.
Me disse que não vai.
Eu que não sei fazer samba...
Apenas pergunto o que será de mim?

Alyne Costa
5/02/11

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