“E há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos
sorrisos e só o acaso estende o braço para quem procura carinho e proteção.”
Reflexões de uma mulher que não lava louça
E a vida vai se gastando com cobranças e julgamentos inúteis
do quanto se poderia ser e não se é, do que poderia ter sido o dito e acabou
omitido, do choro negado a si mesmo quando todos nós precisamos de abrigos de
nós mesmos.
E, assim, refugiados do que sobrou de vida que está aí sendo
diuturnamente oferecida para ser vivida e nós já quase sufocados nos nossos
cataclismas existenciais, deixamos escorrer com pressa e medo.
O quanto se perde do amor verdadeiro com reclamações e autossabotagens,
exigindo do outro que faça uma ginástica de alma para que possa caber no porão
em que nossos sonhos se perderam antes mesmo que tivessem começado.
Talvez estejamos desaprendendo a ouvir o outro, e, nessa
avidez por notícias, cobrando do outro uma perfeição que jamais teremos...
Talvez essas coisinhas escritas aqui, sem pretensão alguma, precisem ser ditas
para salvar a minha humanidade e dizer que o tamanho do meu amor por essa vida,
mesmo doída, ferida e frágil (sim, cuidado conteúdo frágil) é imenso e inclui
um universo de pessoas que ora me condenando e ora me absolvendo compuseram a
minha trajetória.
Nessa estrada cheia de encruzilhadas, nossos passos muitas
vezes se confundem a outros passos e dá vontade de que uma música nos soe
favorável, como um bolero ou uma flauta suave no soturno alarido das madrugadas
solitárias dessa mulher que odeia afazeres domésticos e escreve porque precisa
viver e se comover.
Alyne Costa, 13-11-2023
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