Sunday, November 12, 2023

 

“E há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende o braço para quem procura carinho e proteção.”

Reflexões de uma mulher que não lava louça

E a vida vai se gastando com cobranças e julgamentos inúteis do quanto se poderia ser e não se é, do que poderia ter sido o dito e acabou omitido, do choro negado a si mesmo quando todos nós precisamos de abrigos de nós mesmos.

E, assim, refugiados do que sobrou de vida que está aí sendo diuturnamente oferecida para ser vivida e nós já quase sufocados nos nossos cataclismas existenciais, deixamos escorrer com pressa e medo.

O quanto se perde do amor verdadeiro com reclamações e autossabotagens, exigindo do outro que faça uma ginástica de alma para que possa caber no porão em que nossos sonhos se perderam antes mesmo que tivessem começado.

Talvez estejamos desaprendendo a ouvir o outro, e, nessa avidez por notícias, cobrando do outro uma perfeição que jamais teremos... Talvez essas coisinhas escritas aqui, sem pretensão alguma, precisem ser ditas para salvar a minha humanidade e dizer que o tamanho do meu amor por essa vida, mesmo doída, ferida e frágil (sim, cuidado conteúdo frágil) é imenso e inclui um universo de pessoas que ora me condenando e ora me absolvendo compuseram a minha trajetória.

Nessa estrada cheia de encruzilhadas, nossos passos muitas vezes se confundem a outros passos e dá vontade de que uma música nos soe favorável, como um bolero ou uma flauta suave no soturno alarido das madrugadas solitárias dessa mulher que odeia afazeres domésticos e escreve porque precisa viver e se comover.

Alyne Costa, 13-11-2023

 

 

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