Tuesday, February 13, 2024

 

Ousando

 

A gente se cansa. De vez em quando a gente não consegue nem mais erguer a cabeça.

Se cansa de ser honesto e ser autêntico.

A gente se cansa de ver os mesmos rostos nos noticiários justificando o que não se justifica.

O mesmo modus operandi a cada quatro anos.

Alianças, conchavos, alianças, conchavos, traições, mentiras, a gente se cansa.

O coração fica miudinho e não há dinheiro que restaure vidas massacradas.

Às vezes a vida massacra, sem dó nem piedade.

A gente ri porque não tem jeito mesmo.

E, de vez em quando, no meio do riso, a gente chora.

A gente se agarra à fé, mas são tantas versões de religiões...

A gente se encanta e se desencanta.

A gente chuta o balde.

A gente deixa de acreditar em dias melhores.

E passa a conviver com o cinismo.

Às vezes uma crueldade é tão grande que por mais que você tente sobreviver percebe que morreu um pouco.

E, de tanto viver nesse reino de injustiça, a gente quer enlouquecer.

A gente quer andar na contramão do destino, pegar água no cesto...

A gente não devia nem se incomodar nesse mundo em que se compra tudo, menos a verdade.

Mas a gente se incomoda e perde a paciência.

E a gente observa que não podemos nos permitir mais erros.

Não, não temos muito tempo.

São poucas as chances.

E a gente então ouve uma canção, toma um café e segue o baile.

E ousa, com toda audácia do mundo, ser diferente.

 

Alyne Costa, 13-02-2024

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