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Showing posts from April, 2024
  Não me pegue, não me toque   Quando meu filho era ainda um bebê eu comprei naqueles livreiros que existiam vendendo de porta em porta, uma caixinha com alguns livrinhos da Disney e lia para ele durante as noites, antes de dormir. Um desses livros contava a história de Bambi e, numas das passagens, era dito pela mãe do personagem: “Se não tiver uma coisa boa para dizer, não diga nada.” Eu peguei essa máxima para mim, por muito tempo, e, como também havia lido emprestado de Sandrinha, minha colega, Pollyana Menina e Pollyana Moça, vivi com esse complexo por muitos anos. Sempre vendo o lado bom das coisas, o lado positivo das pessoas, talvez também aquela base cristã que me fazia acreditar que o bem que se faz, apaga-se o mal que se fez. Certa ocasião, falei para um carinha que eu gostava sobre a “filosofria” do livrinho de Bambi, ele me disse: “ – Cuidado com essas histórias de Bambi, olhe para onde seu filho vai!” Isso não importa, para onde quer que meu filho vá...
  Exaustão   Sabe cansaço? Cansaço de existir? Pensar, escolher, falar, sentir... Tudo isso cansa. E tudo cansa. Mas cansada de que? Cansada das treitas da vida. Cansada de ver as máscaras se dissolvendo na chuva. Das estradas e das curvas que a vida nos faz. E essa vida feita de urgência nos rouba os momentos. Aqueles momentinhos mágicos de felicidade que não volta mais. Sentimento é rio perene e a gente que aprende a cor e a dor do amor. Muda de cor. Sente o sabor da flor viril que a poesia não abriga nem pede arrego. E se tiver que morrer, que não seja de medo!   Alyne Costa, 20/04/2024
  A solidão compõe a minha face e ela me é genuinamente necessária como a água ao sedento. Pessoas passearam por minha vida e traçaram seus desenhos com tintas do absurdo. Algumas me fizeram felizes, outras apenas se divertiram. Não sei se já amei, também não sei se o amor existe. Decerto, minha alma esfarrapada não precise mais dessas ilusões. A morte que a cada dia é mais próxima me é um íntimo mistério e como morre-se nesses dias. As gavetas que tento arrumar denunciam fraudes e mentiras... O absurdo do mais incrível mora nas gavetas das almas dos que heroicamente mentem. Teses, antíteses, enredos, emaranhados de medos e mentiras. Queria ter força, sorrir, acreditar... Meus olhos marejam saudades da minha inocência. Os ébrios das madrugadas sobrevivem... Só minhas pequenas flores morreram.   Alyne Costa, 13/04/2024
  A vida e o tempo cuidaram de me mostrar que amigos são raros Poucos e lançados num pote de segredos Guardo cada um nas paisagens intensas da minha memória Cada um com sua fragrância de amor e desespero Quero-os sempre, na medida exata de que não me pertencem Livres e para sempre bem abrigados Eles sabem a intensidade do brilho das minhas pupilas Quando amo Quando quero ficar só Quando traço meu caminho rabiscado no infinito das minhas buscas e angústias Para eles, jamais saberei quem sou Para mim, o mais precioso tesouro da vida Doída Repartida Sentida Dividida   Alyne Costa, 03/04/2024  
  Acordando entre Dali e Picasso Hoje após o café recebi uma gravura de Salvador Dali e Pablo Picasso, cada um em seu devido cavalete, observando um ovo. Reconheci Dali pelo bigode, embora nada sabia sobre a vida dele, já Picasso eu não reconheci, apesar de ter me chamado atenção as figuras geométricas. Eu sabia sobre Picasso das aulas sobre Cubismo com Madalena. Fiquei encasquetada pra saber quem era o outro artista na pintura com Dali, perguntei a uma amiga e esta me respondeu que achava que era Picasso. Juro que eu não sabia que Dali era espanhol, achava que era italiano, pois na única vez que jantei no Salvador Dali, lá no red river, comi macarrão. Eu e minhas obviedades inúteis... Pai Luis me consolou dizendo que eu não tinha obrigação de saber a nacionalidade de Dali. Daí parti pra Picasso que eu nunca havia visto uma fotografia, gente, o Picasso é careca! Vou passar o dia observando a fisionomia desses artistas... “Tic tac tic tac passa o tempo, tic tac pas...
  Domingo de páscoa. Final de feriado, cidade vazia e alguns turistas transeuntes. No banco do carro do motorista de táxi, uma toalha do Bahia anunciava a primeira partida da final do Baianão. Noutro carro estacionado mais adiante, uma toalha dos Filhos de Gandhy cobria o volante. Sol quente de 14 horas da tarde, anúncios de imóveis para venda/locação. Desço a Avenida deserta e chego em casa, ao abrir o portão avisto de longe o rapaz do pitbull. Após o final do clássico desço pro supermercado, vazio e com prateleiras cheias de produtos com preços os olhos da cara, minha cara pálida ainda se acostuma com a nova face dessa cidade ainda cheia de ritmos, mas que hoje caminha a passos tensos... Lembro de uma canção de Edson Gomes das bem antigas, tanta violência na cidade... Não há nada de novo na violência de Salvador. Talvez ela esteja mais nítida... Sigo pra fila do caixa com poucos itens na mão. Uma criança brinca com um pequeno e simples avião de plástico com gravur...