Monday, April 22, 2024

 

Não me pegue, não me toque

 

Quando meu filho era ainda um bebê eu comprei naqueles livreiros que existiam vendendo de porta em porta, uma caixinha com alguns livrinhos da Disney e lia para ele durante as noites, antes de dormir.

Um desses livros contava a história de Bambi e, numas das passagens, era dito pela mãe do personagem: “Se não tiver uma coisa boa para dizer, não diga nada.”

Eu peguei essa máxima para mim, por muito tempo, e, como também havia lido emprestado de Sandrinha, minha colega, Pollyana Menina e Pollyana Moça, vivi com esse complexo por muitos anos. Sempre vendo o lado bom das coisas, o lado positivo das pessoas, talvez também aquela base cristã que me fazia acreditar que o bem que se faz, apaga-se o mal que se fez.

Certa ocasião, falei para um carinha que eu gostava sobre a “filosofria” do livrinho de Bambi, ele me disse:
“ – Cuidado com essas histórias de Bambi, olhe para onde seu filho vai!”

Isso não importa, para onde quer que meu filho vá, só lhe desejo ser um homem de bem, embora eu não sei até aonde eu seja uma mulher de bem... Melhor esquecer essa história de bem, bem não deu muito certo na minha vida.

O fato é que a vida, ela, inexoravelmente, me levou essa singeleza das historinhas Disney, e aquele tempo que Belchior cantou que “Fez comigo o mal que a força também faz”, me colocou em momento de me erre, me poupe e me salte.

E, não me pegue, não me toque...

Certo que ninguém quer saber nem tem nada a ver, a vida me trouxe pessoas maravilhosas, mas me trouxe também muita decepção.

Decepcionada, mas livre, não do aspecto jurídico, social, posto que estamos todos emaranhados nessa prisão que é viver.

Sigo então com gotinhas de orvalho de esperança que na contradança do baile me acorda de manhã, me faz preparar uma dose de café e escrever alguma coisa, ora poesia que, embora não alimente o físico, acalanta a alma.

Alyne Costa, 22/04/2024

No comments: