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Showing posts from 2008

Dia Especial

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Um dia especial pode se esconder numa caixa antiga de fotografias e correspondências, pequenos mimos de amigos que não vemos mais ou porque tempo e destino os levaram ou porque a própria vida nos faz assim: teia de relações. Para um dia nascer especial não precisamos ir ao japonês mais caro, basta abrir um velho livro de receitas e inventar saladas e uma sopa caprichada, encher os olhos com cores de temperos, cortar o dedo na faquinha de serra. Deixar-se embevecer com um cd ganhado de presente com direito a ouvir Elomar. Pensar que é da roça. Ouvir cantoria enche um dia. Arrumar o guarda-roupa e ver quanta coisa inútil guardamos em nossas gavetas. E nas gavetas da alma? A vida requer faxinas íntimas, libertar-se de padrões e vícios, manias, pensamentos que aprisionam e cerceam nossa capacidade de criar, inovar e estar aberto para que novas emoções possam chegar até nós e nos tornar novos para acompanhara vida que não possui ritmo único. Um dia especial pode começar com uma...

Lição de Generosidade

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Vinha soberana de sobrinha, fazendo caso algum da chuva que caía e eu pensei na garra daquela mulher com seus oitenta anos enfrentando a chuva, só e desfilando em direção ao ponto de ônibus. Pensei ainda na graça sua, na singeleza dos adornos, na maquilagem, na roupinha bem passada e vi ela se benzer em frente à capela do português. Estava parada no ponto de ônibus e ela se aproximou e me disse: “Seu semblante é sereno e seus olhos sorriem. Seu sorriso traz a beleza de seu coração.” Nossas sobrinhas se uniram e ela me declamou uma poesia, falava sobre Generosidade. Não raras vezes o universo escolhe pessoas que sequer conhecemos para acender a chama do nosso coração. Amigos não conseguem falar, família não consegue entender, colegas têm prioridades demais e a gente precisa prestar muita atenção no que o Universo nos diz. O Vale dos Rios chegou e ela previu minha ansiedade: “Vai, meu bem, vai pro seu trabalho...” Só deu tempo de dizer que ela também era linda e adentrei...

Se eu Pensasse Um Poema

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Se eu pensasse um poema, teria ele a mim. Não seria broto, nem jorro. Seria o inverso. Não rangeria os dentes. Não guardaria a casa. Não seria lobo, nem cão. Seria poeminha de estimação. Se eu pensasse um poema não seria ele a dor. Porque um poema me explode. Me abre, me rompe, me cega e me guia. Um poema não me vive. Um poema não me come. Não me embriaga. Não me mata a fome. Não me castiga. Nem mimo, nem intriga. Se eu pensasse um poema não seria ele esta cor indefinível do crepúsculo. Das sombras e sobras nos meus contornos. Nas minhas margens. Nas minhas sondagens. Nas minhas obscuras: Paisagens. Salvador, novembro de 2008

Apartada do Cálice

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Quando não há mais cálice Nem mais carne Nem verbo que aparte a poesia que dobra a alma Meus Deus, me abraça... Me pega no colo. Faz tua vontade. Te acerca de mim e de meus devaneios. Emudece meus delírios. Amansa a ira. Quando não há mais cálice. O que apartarás de mim? Bendigo esta paz que me deste neste fim de tarde. Essa chuva que cai e que molha os meninos. Que encharca a terra e traz esse cheiro que me lembra vida. Bendigo esta chuva, este canto de pássaro, essa fé acesa aqui dentro. Quando não há mais cálice, pai. O que apartarás de mim? Alyne Costa Salvador, novembro de 2008

Sobra de Canção

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Restam as minhas sobras, levadas ao vento... E eu me pergunto o que não sou? Desde que não estou junto a ti? Tudo é difícil... Vejo o amor como um parque repleto de alegorias. Gangorras e almofadas coloridas. Espero uma resposta na chuva que desaba em mim: Lembranças, fragâncias, fotografias e questões. Triste eu abro os olhos e vejo o amor. Desenho meu retrato nas paredes dos banheiros. Risco versos obscenos. Corto minha alma em fina lâmina. Nada sangra... Apenas uma distância que não aparta, nem divide. Surgem visões de pássaros e rãs... Um piano toca só. Acordes por nós dois. Datas marcadas na agenda. Esperas, compromissos, filmes adiados. Encontro marcado com a solidão. Monólogos, teses, coisinhas inúteis... Poemas abortados. Faço minha a chama da sua solidão. Arrisco previsões. Desligo todos os telejornais: Chacinas, política, arriscadas econômicas... Abraço o travesseiro e sonho. Qualquer coisa me mostra pulsos cortados... Corpos mutilados, carbonizados, canções boêmias como não ...

Namoro de Praça

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Arte de Henrri Matisse Amor de praça é amor de graça O caboclo do alto apenas vê, atado à sua condição de estátua. Camponesas, Apolo e Diana abençoam o beijo ateu. O pastor prega. Crianças passeiam, festivas e belas. Desfilam meias coloridas e o algodão-doce pincela o céu. O namorado avassala um beijo. E o chafariz mija de rir. O coreto mudo chora a nostalgia... De um tempo que amar não custava nada. Salvador, 4/02/04

Façamos Amor, Mas Façamos Arte!

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O contato do ser humano com uma obra de arte, faz emergir um novo ser. Ninguém é intangível à arte em suas diversificadas formas de manifestação. Não é vista apenas pelo olhar, mas pelos sentidos, captada, ainda que indiscernível, abre fendas, labaredas em todos que com ela se deparam. Cegos, crianças, fanáticos, "loucos", "mutilados morais", se o olho vê a arte, vai além. Segundo o artista plástico Almandrade: "a arte produz efeitos imprevisíveis e é preciso entende-la sem descreve-la". E quem se atreveria a equacionar o seu alcance? A obra de arte transbora a pré-intenção do artista, reflete no espectador, transformando-o num homem novo. Quantas vezes não mudamos, não alteramos as nossas perspectivas perante relacionamentos e fatos após ouvirmos uma canção? E a mesma canção pode nos trazer leituras diferentes acerca da mesma realidade. Não pretendendo adentrar no "mito da incompreensibilidade" da arte e sim a necessidade de utiliza-la como fato...

Salve Jorge

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Viva são, viva são, viva São João Salve São jorge Salve abril, fevereiro, o ano inteiro Salve São Jorge Salve são, salve são, salve são São Jorge Aragão Salve assim, salve assado ateu, consagradao São Jorge Amado Salve assim, sereno, tranquilo São Jorge Vercilo Salve em ré menor, Salve em dó maior Salve bem, salve bem, salve bem São Jorge Bem Jor Salve toda luz o sinal da cruz as armas de Jorge Viva Santo Antonio, São Sebastião Salve São Jorge Das estrelas De toda lua Minguante, Crescente, Cheia e Nova Gente, Salve São Jorge Que brilha no céu Sobre o seu cavalo Pela Capadócia Por toda audácia Salve São, Salve São, Salve São Salve São Jorge Alyne Costa maio de 2008

NANORROMANCE

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A Chuva Escorre Em Mim

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By Alyne Costa A chuva escorre em mim. Cai forte feito tempestade sobre meus alicerces. As coisas que acredito passam a boiar. Segredos, medos, amores, projetos e sonhos bóiam obstinados, resistentes... A tempestade afasta a solidão e o barulho da chuva canta antigas modinhas de um tempo que sequer me pertence, removendo as falsas angústias. Ensaio respostas para as dúvidas do dia. Travo monólogos sobre teses que não dissertei para uma platéia invisível que zomba e vaia. Cai às gargalhadas. Não, quase cai, apenas se inclina sensualmente pela força gregária de ter grupo. Abraço a solidão e a verdade. A força de permanecer inteira enquanto cato os cacos de quantas já fui. Voam pela mente projetos sociais, abraços de tia, manchetes, pesquisas feitas ao acaso. Faço pouco caso do lirismo em greve. E me visto de chuva. Há tempos a TV dorme ligada como se membro da família. Família que não senta à mesa, que perde o horário, que fala com olhares e que, ainda assim, comunga o Amo...

Sem Título

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Klimt, Gustav Sem título Quis a sorte de um amor tranqüilo, Mas chegaste rasgando a cortina Acreditando que seria fácil convencer-me De que a tua metade era tudo o que merecia Com o peito sangrando Devolvi cada palavra E mesmo muito te querendo Quis mais a mim mesma... Fitei os teus faróis castanhos, Beijei-te a face e decidi ser feliz... Virtas, 2007 Mais da poeta no blog Relatos e Fotos, linkado aqui ao lado.

De Amarrar

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Dame avec éventail, Klimt, 1917-18 Há os que vivem sem pressa alguma, sem dúvidas, sem angústias, sem assombros e pautados no óbvio. Para estes, ócio ou deleite, raivas, inconstâncias, temores e paixões são nuances de desequilíbrio. Esqueçam essa louca! A louca que sobrevoar a praça nua em pelo numa vassoura de cipó e assoviar: Ai deu saudade... A tereré quer lamber a vida que é dela, como só ela sente a profundidade de suas dores. “A dor é minha e de mais ninguém”. Egoísta essa maluca, não? Ultra! Eta, menina doida! Faz todo mundo rir! Por isso é bom ter a doida por perto: É riso certo! “Mais doido é quem me diz... E não é feliz... Não é feliz...” O sabor da vida não é único. Ela não me aparece num buffet de sorvetes. Hoje eu quero alegria, amanhã saudade, terça que vem coerência, no comecinho do mês duas bolas de audácia. O sabor da vida está no improviso, no riso sem sentido, na lágrima que desaba sem vergonha como que falando: Ei, eu vivo! Eu sinto! Eu caminho em p...

Ao Poeta do Giz

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Rio de Contas - Ba "Para quem precisar estar perto do céu..." Hoje eu queria fazer um poema. Um poema para acordar o poeta que dorme. O timoneiro do riso. Hoje meu verbo foi pranto. E o meu silêncio apenas abraça o jasmineiro em flor... Sobe o pé de goiaba. Treme de raiva. Treme de saudade. Treme de dor. Hoje o meu poema dorme à sombra de uma esperança. E em mim habita uma cega que vaga pelas ruas a pedido de oração. Hoje o meu poema voa junto a borboletas. E a minha impotência cala a minha ternura. Sou aquela que não compreende. Sou aquela sentada à espera de um milagre. Hoje a minha poesia é prece. Atendei-a, ó Pai. Alyne Costa Salvador, 16 de fevereiro de 2008

Voa, Meu Coração

Voa, meu coração... Voa infinito pelo céu bonito. Abraça as estrelas. Afaga a lua. Voa, meu coração... Voa além dos limites de tudo que sonhamos... Voa contente com suas velhinhas sorridentes. De lá de cima, vês melhor o verde das mangas... Escuta agora os aboios celestes. Que tenhas nesta paz a alegria que nos destes. Voa, meu coração... Voa sereno e escuta os sinos dos anjos. Te deram em vida tantas virtudes. O dom do amor. O dom do perdão. O dom da humildade. O dom de amar aos pequeninos. E assim, seu amor floresceu... Em fibra, em honestidade, em filhos, em netos, em sonhos, em vida, em flor... Seu amor derramou-se feito chuva em todos nós. A mão forte que tantas vezes segurou a enxada, era a mesma mão que fazia um carinho... Que estendia aos amigos, que acenava esperança, que adulava criança... Os pés, tantas vezes manchado da terra, caminhava, caminhava, caminhava... Agora, viraram asas... Amor de lavrador... Os pés superavam o tr...

Ao Poeta das Fadinhas

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Plugada, Alyne Costa 2003, acrílica sobre tela E hoje duendes e fadinhas não me acompanharão Hoje o poeta enlouqueceu e seus versos soltos nada me trazem das velhas canções São entorpecentes seus desejos E nada me diz sua voz arrancada a quatro céus A quatro foices sem martelo E à fina flor da minha angústia me emudeço Emudecida, cedo assim, assistindo mansamente as vinte estrelas desta tristeza. Para Rose setembro de 1991

Gente que faz voar....

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O Pássaro, R.Godá Nanquim Muitas obras deste maravilhoso artista encontram-se no site: http://www.murilocastro.com.br/expo/expo.php?expo=25 Gente que nos faz voar com os olhos e com o coração. Lenda do Pégaso Moraes Moreira Composição: Jorge Mautner Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio Que não sabia o que era, nem de onde veio Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era Voando, voando com as asas, asas da quimera Sonhava ser uma gaivota porque ela é linda e todo mundo nota E naquela de pretensão queria ser um gavião E quando estava feliz, feliz, ser a misteriosa perdiz E vejam, então, que vergonha quando quis ser a sagrada cegonha E com a vontade esparsa sonhava ser uma linda garça E num instante de desengano queria apenas ser um tucano E foi aquele, aquele ti-ti-ti quando quis ser um colibri Por isso lhe pisaram o calo e aí então cantou de galo Sonhava com a casa de barro, a do joão-de-barro, e ficava triste Tão triste assim como tu, querendo ser o sinistro urubu E qua...

A Vida Não Tá no Gibi

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Imagem retirada do site: www.memorychips.com.br/Lembra27.htm vale a pena conferir... Que confusa é a vida... Se tudo fosse lápis e borracha, um simples rascunho... Mas nada é assim! A vida não cabe no abraço protetor de meu filho. A vida não cabe num livro inédito. A vida não é um poema de Arnaldo Antunes. A vida não é o que é o que é, meu irmão. A vida é um pedaço de pão. A vida não paga o preço das minhas dúvidas nem a minha fome de liberdade. A vida não se pode virar e desvirar pelo avesso. A vida viaja em paz de ônibus. A vida pode ser sonhada, recriada e inventada. A vida rasga num poema de Torga. A vida bóia na poesia de Bandeira. A vida não quer ser levada a sério. A vida não aparece nas manchetes de jornais. A vida é clandestina, e sorri, menina. A vida tá na asa do colibri e no canto do bem-te-vi. A vida cospe na cara. A vida é obscena. A vida é cruel. A vida é fel e mel. A vida é ciranda e carrocel. A vida é sushi e sarapatel. A vida é prazer e carga. A vida é ré confessa. A ...