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Showing posts from April, 2011

Estrela Guia

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Aprendi já tarde a lidar com urgências. É que sentimentos não se encontram em lojinhas de conveniência... Ontem meu amor e eu misturamos as lágrimas. Pude então entender a vastidão da compreensão. Não fui feita para pressa, nem desespero. Fui moldada para ter esperança. E quando ela não chega, me encolho. Agasalhada, leio os novos poetas... Novas direções, tantas setas. Sigo-os em busca do sol. A minha veia matriz germina sonhos em pedacinhos de algodão. Lembro da resignação de meus avós. Da fé, da honestidade e das relações de compadre e comadre. O respeito por quem tinha estudo. E qualquer assombro levava-se a dizer: “Misericórdia.” A vida que levou minha inocência, levou também meus assombros. Serei eu a poeta dos escombros? Cantarei o que sobrou? Não, tenho a esperança que me inunda os olhos. Tenho o condão do perdão. E a poesia como estrela guia. Alyne Costa 30/04/11

O Sonho É Meu

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Sonho em dançar um tango... Em deixar este amor totalmente nú. Em deixar as contas totalmente às avessas. Faço promessas pra abandonar os vícios. Mas são eles que por obséquio não me deixam. São resquícios de pó de pemba. Arrumo a mesa. Preparo um arranjo com frutas frescas. Acendo um incenso de sândalo e olho ,admirada, enquanto a janta cozinha na panela. Volto à cozinha e confiro. Quase pronto o ritual, me dispo e me banho, antes uma canção. Fracoise Hardy. Enquanto luto contra os ponteiros do relógio, me perfumo... E entre uns goles de vinho e tragadas no cigarro, chacoalho o tapete da sala. Tudo deve estar pronto. Apago as luzes. Acendo as velas. Um pouco de bom ar, ele não fuma... Minha boca se espuma sorvendo de desejo. Sonhando em dançar tango. De salto, na corda bamba do imprevisto, eu quase desisto quando o interfone toca. Fechem as cortinas. O sonho é meu. Alyne Costa 27/04/11

Quem Não Aprende Com a História...

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Foto retirada do site http://fatosemcharges.wordpress.com/2008/10/24/foto-el-pais-convencao-internacional-de-palhacos/ Tava meio cansada de ter tanta memória. A minha paixão por detalhe me põe em riscos. Porque lembro de coisas recentes e coisas de décadas atrás recheadas de detalhes. Isso pode ser uma espécie de loucura, não sei. O mais terrível é que você convive com pessoas que não possuem a mesma memória, máxime porque costumam se lembrar dos fatos da forma como lhe são convenientes... Daí você fica ouvindo a história toda deturpada se corroendo, deixando o narrador ir longe na fantasia com medo de interferir e horrorizada da potencialidade humana de tecer tramas para se tornar vítimas. Antes eu interferia, dizia não foi nada disso, mas como sempre dava com os burros n’água, desisti. Viva cada um com seu delírio. Recentemente encontrei minha primeira professora no Facebook. Lembrava detalhes dela, da escola, da turma, dos colegas e das músicas que ouvíamos. Eu devia ter de três par...

Nossos Homens Não Foram à Guerra

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Ouçam bem minhas amigas. Nossos homens não foram à guerra, mas estão todos perdidos. Precisam do nosso colo. Da doçura fêmea de nossas mãos... Do cheiro de toalha limpa e sabonete novo. O poder nos cai bem. Fomos feitas para gerar e quando queremos damos ao mundo os guerreiros. Aprendemos a pegar em armas que sequer precisamos usar. Somos fadas, santas, bruxas e loucas. Entendidas de dor. Nos deram manuais, livros de receitas, livros de como cuidar do bebê, romances... Mas de vida, aprendemos sozinhas. De conquistas, aprendemos quando demos as mãos. Somos feiticeiras, detetives, ciganas e bailarinas. Rasgamos os manuais. Nossos homens não foram à guerra, mas estão todos perdidos. Profunda é a paixão. Alyne Costa 22/04/11

Quando a Vida Requer Pausa

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Tenho natureza melancólica, mas nem por isso a alegria não deixa me visitar e quando isto ocorre banho-me na chuva. Tenho paixão por detalhes, miudezas não me passam em vão. Silhuetas, olhares, afagos de gestos e palavras me transmitem muito tanto quanto os sonetos de Florbela Espanca, os filmes de Almodóvar e a voz de Nara Leão. Acredito que fomos feitos para passar pela vida e não a vida feita para passar por nós. Por isso ela às vezes nos requer pausas. Quando entramos na dinâmica louca da vida sem dar a devida atenção às nossas reais necessidades ela nos quebra literalmente porque tentamos ser aquilo que não somos: máquinas. Aí adoecemos sob diversas formas, deprimimos,entramos em pânico, machucamos quem menos gostaríamos de ter machucado, somos surpreendidos pelas mais variadas espécies de desenganos, fazemos uma besteira enorme e temos que precisar parar tudo para consertar o que talvez nem tenha mais remendo. Achamos que estamos enlouquecendo e que não vamos conseguir suportar a...

O Filme Que Eu Vi Ontem A Noite

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Fotografia retirada do blog http://abrigodeventos.blogspot.com Em seu corpo retalhos de uma guerra. Cicatrizes na alma. Aprendera a amá-lo enquanto fazia curativos sobre suas queimaduras. Pouco falava. Lembranças do horror haviam levado a escolher a solidão. Ele aos poucos esculpia na muralha de gelo que a contornava uma flor. E contou que não sabia nadar por pavor a monstros marinhos imaginários. Parei o filme. Um café. Um cigarro. Os remédios homeopáticos. Lembrei de um tempo que eu gostava de roda gigante e de soltar bolas de sabão. A inocência sublimava os temores. Nunca devemos deixar que as marcas de qualquer terror matem uma possibilidade de amor. Liguei o filme. O amor nascia numa plataforma de petróleo. Ele precisou ir para o hospital e ela fugiu. Fugiu para seu trabalho, seu mundo e sua dor. Fugiu do amor. Obstinado, ele a encontra e revela seus desejos. Não havia mais como fugir, o amor havia cercado por todos os lados. Foram felizes... Stop. Alyne Costa 18/04/11

O Sol

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Entre o meio e o todo : o inefável! Entre a sombra e a meia-luz : o sol! Entre o maldito e o indecifrável: a verdade! Alyne Costa 16/04-2011

Quando a Loucura Me Visita

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Fotografia retirada do site http://www.arvores.brasil.nom.br/florin/oiti.htm O meu ofício não é o de mulher educada Trago em mim as chagas das Helenas Romperam-se as minhas comportas E tudo sangra, gota a gota Sentidos e sofrimentos Tudo escorre pelos dedos trêmulos de minhas mãos. Nas madrugadas enquanto todos dormem eu visito a cidade. Numa solitária astronave cor de maçã. Vejo os sem-teto, as damas da rua e os vigilantes da lua. E quando não há lua é só tristeza. Preparo a comida como se faz feitiço. Gosto do cheiro dos temperos que por vezes se misturam às lágrimas. Não, o meu ofício não é o de moça comportada. É o da mulher que chora em dores de parto as injustiças do mundo. Qualquer equilíbrio me desconfigura... A minha loucura avisa de véspera suas visitas. Abro todas as cortinas, lavo a louça, acendo incensos. Bordo pequenas alegrias em lençóis alvos. Para recebê-la me visto de diva. Conversamos, vamos ao cinema, ouvimos canções francesas... Abrimos um vinho, embriagadas rimos...