Friday, April 15, 2011

Quando a Loucura Me Visita



Fotografia retirada do site http://www.arvores.brasil.nom.br/florin/oiti.htm


O meu ofício não é o de mulher educada
Trago em mim as chagas das Helenas
Romperam-se as minhas comportas
E tudo sangra, gota a gota
Sentidos e sofrimentos
Tudo escorre pelos dedos trêmulos de minhas mãos.
Nas madrugadas enquanto todos dormem eu visito a cidade.
Numa solitária astronave cor de maçã.
Vejo os sem-teto, as damas da rua e os vigilantes da lua.
E quando não há lua é só tristeza.
Preparo a comida como se faz feitiço.
Gosto do cheiro dos temperos que por vezes se misturam às lágrimas.
Não, o meu ofício não é o de moça comportada.
É o da mulher que chora em dores de parto as injustiças do mundo.
Qualquer equilíbrio me desconfigura...
A minha loucura avisa de véspera suas visitas.
Abro todas as cortinas, lavo a louça, acendo incensos.
Bordo pequenas alegrias em lençóis alvos.
Para recebê-la me visto de diva.
Conversamos, vamos ao cinema, ouvimos canções francesas...
Abrimos um vinho, embriagadas rimos alto daquilo que até mesmo não tem graça.
Choramos copiosamente pelo que nada podemos fazer.
Adormeço no seu colo.
Acordo com o bem-te-vi cantarolando no pé de oiti.
Alyne Costa
15/04/11

1 comment:

Lê Fernands said...

nossa... que texto lindo.



amei.
bjsmeus