O dia em que perdi meu filho

Foi o dia mais triste da minha vida. Foi ontem cedo. Ele chegou e estava vestindo uma bermuda que comprei no mercado livre pra ele. Aliás comprei várias bermudas porque estava cansada de vê-lo usando roupas usadas dos outros.

A mim e meu filho sempre nos deram sobras. Ainda no meu útero me pediram para abortá-lo e eu disse não porque achei que aquele amor que eu sentia por ele merecia ao menos ver a luz do sol e sentir a brisa da vida.

Eu passei o dia chorando, lembrando da primeira semana que ele passou no exército, do tempo que morávamos no Bairro das Flores em Brumado.

Eu sei, porque toda mãe sabe, quem o fez sofrer, quem o fez chorar...

O Barba Azul não conseguindo me destruir com sua astúcia feroz e vil, matou meu filho, vivia falando mal dele pelo bairro afora, nos caixas da Perini, na barraquinha de meu primo lá em Brotas.

Colocou-lhe, perversamente, o apelido de Serapião.

O dia mais triste foi quando fomos para Vitória de carro e o Barba Azul deixou meu filho chorando, implorando para ir aqui na porta do prédio, aquele dia o Barba Azul me matou.

Nunca mais ergui a cabeça.

Fui chorando pelo caminho, miudinho, sentido...

Na sua ganância, o Barba Azul me fez colocar meu filho numa escola pública, muito distante de casa.

O pai nunca apareceu nessa época.

Nunca pagou uma mensalidade escolar.

Deixa isso...

Importante é que mataram meu filho em mim.

Faz pouco tempo isso.

Não sei porque odeiam tanto esse menino, coitado, nasceu sem sorte. O único afeto sincero masculino que recebeu foi do padrinho que morreu cedo.

A fofoca matou meu filho em mim. Não sabia que ele tinha se tornado tão falso.

Aí eu resolvi matar em mim também a parentela da fofoca toda. Viajei. Fugi. Mudei o telefone. Fui pra beira do mar.

Nunca mais meu filho vai me ver, nem eu a ele.

Essas pessoas que têm apenas dinheiro na vida, pensa que todos os outros são como elas.

Meu filho morreu, mas elas também morreram.

 

Alyne Costa, 11/06/2024

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