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Showing posts from March, 2007

Coração Forasteiro

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Foto retirada do site: http://www.paginadogaucho.com.br/hist/sulr-05.jpg Homenagem a meu bisavô, tropeiro, Américo Lopes Meu coração forasteiro apenas olha as estrelas do céu São belas e pertencem a todos A chuva que cai Lavando a alma Pertence a todos O canto dos violeiros Pertence a todos A esperança Pertence a todos Meu coração, acabrunhado, chora... Eu e meus exílios. Minhas fugas e buscas.... Um dia irei a Pernambuco, Aquele cantado por Miguel Carneiro. Um dia serei Romeira e darei graças em Aparecida. Por um milagre. Por minha Fé. Pelo Meu Coração. Mas meu coração forasteiro só pede uma rede pra dormir. Cinco minutos em frente ao mar. Que viver requer paisagem. Abraço. Aperto de mão. Vida, minha vida... Aonde vais me levar? Se cega, apenas tropeço e perdi os rumos de mim? Estas ondas que escorrem de meus olhos e salgam minha boca. São ondas da solidão que escolhi. De um sonho perdido. Um coração partido. Seu moço violeiro, canta pra me levar ao jardim do paraíso. Canta, que urge...

A Mulher de Roxo

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Foto retirada do site: http://flame.blogs.sapo.pt/arquivo/P1050119-2.jpg Não achei nenhuma foto da Mulher de Roxo. Pesquisem.... Nossas lendaS são esferas de nossa vida. Oswaldo Montenegro já cantou outra abordagem da solidão... Eu que já fui só em meio a uma multidão, hoje procuro compreendê-la e dou mil vivas a Bill Gates. E assim, deletos alguns "amigos" e "adiciono" outros. Vida é reciclagem. E no meio do barulhinho da TVE, até agora a única coisa que estou vendo prestar, fico imaginando a solidão dos que aprenderam a desligarem seus celulares, julgando eterno seu poder, risos... Pobres mortais, nem de longe tangeciam a beleza da solidão da Mulher de Roxo. Aquela que eu tantas vezes vi, menina, pertinho da Slopper, na Rua Chile, aquela solidão mágica, impenetrável... Quase aristocrática. Aquilo é que era chique e que a ela se rendam as garotas Dancin days dos anos 70.... Aquilo é que era poder! Agora deixar um celular na caixa, trocar um chip? Isso não é poder,...

A Menina e o Manacá

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Lembro do portãozinho dos fundos e do pé de Manacá que me fazia sombra e me cobria de flor.Ficava quase em frente ao portãozinho. E eu sentada no reinado dos meus cinco anos tirava as botas e ali ficava, à sombra do Manacá, domando formigas e rolando com a cachorrada. Era muito cachorro solto no quintal. Uns quinze. Bob e Dinga, os preferidos, parceiros e travávamos diálogos e estratégias para abrir o portãozinho e ganhar mundo da rua. Era uma casa estranha com dois velhos com as feições de tristeza. A velhinha fazia farofa de couve, mas me sentava em frente à tv para ver Tom e Jerry. O velhinho comia banana amassada com um pouco de farinha, como sobremesa. E me dava goiabas. Ia à missa todos os dias cedinho pela manhã e tinha uma cara de medo. Não era um medo qualquer era um medo resignado. Um dia levaram a velhinha. Tempos depois o velhinho fugiu. E a casa ficou só. Depois foi divida ao meio: um filho de cada lado. Como se a loucura admitisse cercas. Eu não sabia que morreria o manac...

Eterno Menino

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Meninos Soltando Papagaio - Portinari, 1947 Surge um canto novo De todo terreiro um menino Um pandeiro... Um novo som sem luz néon Menino tocador de reis Menino tocador de boi Menino tocador de flauta Menino batedor de lata Já foi cantada sua majestade Hoje canto o infinito do seu sonho E o menino abóia O menino bóia na borda do sonho Veleja oceanos em barcos de papéis Meninos profetas e menestréis Atravessas os ares com asas de papagaio Voa, voa, voa, num céu infinito Rala a perna, dá um grito Puxa cabelo da colega de sala Pirraça, pirraça e acha graça Marcha, soldado, de papel o chapéu Solta bombinha, anarquiza a quadrilha Ri de tudo que não pode rir Faz xixi no chafariz Menino é assim... E não cresce nunca. Menino é eterno. Estudou tabuada. Arrumou namorada. Prestou vestibular. Endotorou... Mas o menino vingou. Na alma. Na essência. No deleite da irreverência. Todo menino é o poeta que dorme... No tapete da sala do homem de contas. Todo menino é o que tem vergonha, se assombra na e...

Por Onde Andei

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Pocilga - Alyne Costa, 2002, Acrílica sobre Canson “Se você me perguntar por onde andei, no tempo em que você sonhava...” Belchior tem uma música que começa assim. Naquele tempo ainda se usava perguntar por onde anda alguém. Chegou-se um tempo em que assombrosamente nos acostumamos com as ausências, talvez até com o terror, o sinistro, a violência. Parece terrível, mas estamos acostumados. E não raras vezes achamos engraçado o injusto, o desumano, o frio. É preferível rir, eu sei, é mais leve. Mas talvez não seja caso para chorar. É caso para que esta espécie da qual faço parte não se acostume. Os mais sensíveis preferem não ler os jornais. Os menos ficam ávidos por notícias sanguinárias. E crimes, terrores, traições são temas repletos de sentidos. Quase ninguém fala do amor. Outros optam por se trancafiar no medo. Ele não resolve, paralisa, gela e é apenas um atalho. Quase não abrimos as janelas de casa e a de nossas almas. Desabar é risco de parecer dependente. Precisamos passar a im...

Meus Ombros Não Suportam Mais Nada

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Luiz Gonzaga- 1970 foto retirada do site: http://www2.hu-berlin.de/fpm/popscrip/themen/pst03/pst03040.htm De vez em quando eu sou um silêncio profundo Todo silêncio que há no mundo. Eu calo ante tanta ausência. A ausência de flor. Ausência de amor. Eu calo como que em estado de oração. E minhas escolhas passam por mim em procissão. Os abandonos da infância. Os apelidos da adolescência. Os maus tratos. A arte do fingimento. Fingindo que há sentimento. E meus ombros não suportam mais nada. Perdão, Poeta Maior.... Meus ombros não suportam: A mentira. A hipocrisia. A desonestidade. A histeria. Meus ombros não suportam mais nada. E meus olhos cansaram-se de ver. Amigos, quero-os poucos. Somente alguns. Porque esta palavra é rara: Amizade. E ela é como flor de cactus. E de vez em quando é preciso aparar as gramas no jardim do coração. Ouvir Luiz Gonzaga, rei do baião. E meditar numas canções. Ô Euclides, o sertanejo é muito mais que forte, o sertanejo é sábio. Se tu visses no que deu a guer...

Se Um Urubu Voar

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Poderia esperar por toda a vida Enquanto os grilos etoam óperas nos vãos dos brejos E o ursinho Puff de meu filho me olha taciturno O que foi feito da mãe? O que foi feito da fêmea? O que foi feito da gema. Eu, que não sei ser pela metade Resto inteira... Faz frio no sertão. Recito... Reverbero... Deságuo nos riachos que persistem. Mas, resto-me fêmea inteira Já sem medos De garras afiadas Língua afiada Cantarolando Dezessete e setecentos “Você tem que me voltar dezessete e setecentos...” E se a vida me fez a distância, volto os olhos Um caldo de maxixe Um vôo de urubu sobre tanta carniça de corrupção E já quase meio morta Tabaco na aorta! E ainda muito viva: Alegria e recital. Que a vida nasce nova quando qualquer poema rasga a alma O retrato adolescente de meu pai se emudece diante de tanta beleza. Meu deus, se há deus, ele vê. E hoje nem é dia de ouvir Chico. Hoje era dia de ligar candeeiro e caçar feriado na folhinha. Era pra ta na roça e comer mi assado. A vida é uma farofa e vive...