Friday, March 09, 2007

Por Onde Andei



Pocilga - Alyne Costa, 2002, Acrílica sobre Canson


“Se você me perguntar por onde andei, no tempo em que você sonhava...”
Belchior tem uma música que começa assim.
Naquele tempo ainda se usava perguntar por onde anda alguém.
Chegou-se um tempo em que assombrosamente nos acostumamos com as ausências, talvez até com o terror, o sinistro, a violência.
Parece terrível, mas estamos acostumados.
E não raras vezes achamos engraçado o injusto, o desumano, o frio.
É preferível rir, eu sei, é mais leve.
Mas talvez não seja caso para chorar.
É caso para que esta espécie da qual faço parte não se acostume.
Os mais sensíveis preferem não ler os jornais.
Os menos ficam ávidos por notícias sanguinárias. E crimes, terrores, traições são temas repletos de sentidos.
Quase ninguém fala do amor.
Outros optam por se trancafiar no medo. Ele não resolve, paralisa, gela e é apenas um atalho.
Quase não abrimos as janelas de casa e a de nossas almas.
Desabar é risco de parecer dependente.
Precisamos passar a imagem de onipotência: Eu por todos e eu por mim.
Precisamos não correr o risco de nos mostrar demasiado humanos porque ai zombam de mim, das minhas dores e do meu sentimento de impotência em face de tanta dor.
Por mim? E eu com isso? Problema de quem?
Problema nosso. Em que mundo você quer que seus filhos cresçam? Com que espécie de semelhantes você quer que eles dividam a vida?
Todos nós somos feitos de dores, de traumas, de partidas e chegadas. Somos feitos de sonhos, de quimeras e fantasias e sem eles, nossa alma nubla e nos tornamos moribundos.
Precisamos dos prados verdejantes do salmo 22.
De acreditar em anjos e acender velas ou orar. Não importa em que idioma você fale com seu Deus. Todos nós precisamos de Fé.
De meditarmos acerca de nossas ações diárias e observarmos o quanto não somos capazes de interpretar as coisas da forma mais simples para nós. Deixamos as cortinas de outras experiências serem transpassadas para novas experiências e tiramos conclusões dignas de mestres em Psicologia. Sem sequer intuir que nada sabemos acerca do insondável mistério da mente humana.
E, assim, interpretando mal levamos como verdadeiras as nossas impressões e criamos uma rede enorme de mal entendidos porque me é muito difícil entender como o ser humano não conseguiu ainda exercer com facilidade aquela máxima cristã: não faça aos outros aquilo que não deseja para você.
Eu que não sou estrela, nem cometa, nem rainha, nem sábia.
Eu, aprendiz diária dessa vida, que cresço na medida do possível e que infalivelmente erro.
Eu, que tantas vezes chorei ou fiz chorar.
Eu, que já me arrependi.
Eu, que perdoei.
Eu, que pedi perdão.
Eu, que ainda pergunto por onde anda alguém.
Eu, que sobrevivi a mais de quarenta dias no deserto sem ser Deus....
Queria apenas lembrar a cada um de vocês, caros e raros:
“Se o por do sol parece não ter mais sentido pra você, seja humilde e procure o amor.”
Paulo Coelho.
Um beijo, com o resto da canção de Belchior:


”Amigo, eu me desesperava....”





Alyne Costa


Brumado, 9 de março de 2007

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