Monday, March 19, 2007

Eterno Menino

Meninos Soltando Papagaio - Portinari, 1947



Surge um canto novo
De todo terreiro um menino
Um pandeiro...
Um novo som sem luz néon
Menino tocador de reis
Menino tocador de boi
Menino tocador de flauta
Menino batedor de lata
Já foi cantada sua majestade
Hoje canto o infinito do seu sonho
E o menino abóia
O menino bóia na borda do sonho
Veleja oceanos em barcos de papéis
Meninos profetas e menestréis
Atravessas os ares com asas de papagaio
Voa, voa, voa, num céu infinito
Rala a perna, dá um grito
Puxa cabelo da colega de sala
Pirraça, pirraça e acha graça
Marcha, soldado, de papel o chapéu
Solta bombinha, anarquiza a quadrilha
Ri de tudo que não pode rir
Faz xixi no chafariz
Menino é assim...
E não cresce nunca.
Menino é eterno.
Estudou tabuada.
Arrumou namorada.
Prestou vestibular.
Endotorou...
Mas o menino vingou.
Na alma.
Na essência.
No deleite da irreverência.
Todo menino é o poeta que dorme...
No tapete da sala do homem de contas.
Todo menino é o que tem vergonha, se assombra na escuridão....
Todo menino é o que ri e o que chora.
O que doa e o que pede esmola.
Sacerdotes da alegria.
Imperadores da cantoria.
E, assim, o homem nunca cresce.
Se agasalha nas asas do menino-anjo que adormece.

Alyne Costa
Brumado, 20 de março de 2007

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