Sunday, March 04, 2007

Meus Ombros Não Suportam Mais Nada

Luiz Gonzaga- 1970 foto retirada do site: http://www2.hu-berlin.de/fpm/popscrip/themen/pst03/pst03040.htm



De vez em quando eu sou um silêncio profundo
Todo silêncio que há no mundo.
Eu calo ante tanta ausência.
A ausência de flor.
Ausência de amor.
Eu calo como que em estado de oração.
E minhas escolhas passam por mim em procissão.
Os abandonos da infância.
Os apelidos da adolescência.
Os maus tratos.
A arte do fingimento.
Fingindo que há sentimento.
E meus ombros não suportam mais nada.
Perdão, Poeta Maior....
Meus ombros não suportam:
A mentira.
A hipocrisia.
A desonestidade.
A histeria.
Meus ombros não suportam mais nada.
E meus olhos cansaram-se de ver.
Amigos, quero-os poucos.
Somente alguns.
Porque esta palavra é rara: Amizade.
E ela é como flor de cactus.
E de vez em quando é preciso aparar as gramas no jardim do coração.
Ouvir Luiz Gonzaga, rei do baião.
E meditar numas canções.
Ô Euclides, o sertanejo é muito mais que forte, o sertanejo é sábio.
Se tu visses no que deu a guerra.
Tu dirias muito mais deste sertão.
Aqui a gente aprende a ser mais ladino.
Ainda se acha água de pote.
Ainda se dança um xote.
E se aprende a lição.
Que o sertão vai na alma de quem parte.
E resplandece na alma de quem fica!
Meus ombros, Poeta Maior, não suportam mais nada.
Mas meu coração sobrevive todas as manhãs.
Trilhando novos caminhos.
Ouvindo grilo e passarinho.
Meu coração se lava na chuva.
Não, meus ombros não suportam peso algum...
Mas minhas mãos são jardineiras enfeitadas.
De uma esperança nova que eu mesma teci.

Brumado, 4 de março de 2007
Alyne Costa

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