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Showing posts from 2025

Vicente e a Borboleta Sorridente

  Vicente era um menino de 04 anos muito gentil e contente. Amava todos os binhinhos, dos rios, do mar, da terra e do ar. Queria até ser passarinho para aprender a voar. Ou quem sabe uma tartaruga-marinha para conhecer o mar? Ou um cachorrinho que pudesse viajar de fusquinha ou avião. Um gatinho, macio e fofinho que colocasse, de levinho, a mão. Um dia Vicente pediu à Mamãe um bichinho de estimação. Podia ser até um coelhinho daquesles estrela de animação. Vicente ficava um pouquinho triste, mas logo voltava a brincar. Na verdade ele já tinha seu zoológico particular. Já sabia que não era não, mas nunca na sua imaginação. No reino da imaginação de Vicente apareceu uma borboleta sorridente. Era azul e voava, melhor do que ele sonhava. De repente, Vicente fazia a borboleta ficar diferente. Virava preta e amarela, podia existir borboleta como aquela?

Lua e Mar

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Fotografia: Neyde Botelho Não tentes desvendar os mistérios da lua Nem desafies a amplidão do mar Atentes apenas aos segredos de minh'alma nua Quando tua carne toca a minha carne Somos um só: plenos Somos: Lua e Mar. Alyne Costa, 11/06/2025  

Pastilha

Desejo seu gosto, sabor infinito Onde me abrigo Sabor de pastilha de menta E a gente se inventa Se deseja, boceja Esse ponteiro do relógio Acena meio dia Desejo que não sacia Quer sempre mais e mais Mais e mais e mais Sou náufraga afgada em seu cais. Alyne Costa, 05/06/2025

Lilia e a Patinete Rosa Choque

Lilia voava porque andar demorava Lilia sorria porque a vida também é alegria Lilia pintava o 1, o 3, o 4 e o 7 Lilia voava de patinete Lilia tinha medo era de levar um cocre Lilia viajou pelo mundo Em seu patinete rosa choque. Alyne Costa, 25/05/2025

O Silêncio

 Talvez eu estava em silêncio  Quando falava ao vento  Mas volta e meia o dragão voltava e zombava da minha fraqueza  Vociferava a sua maldade e a sua torpeza como se quisesse domar em mim a ausência dos seus sonhos E o menino se fez monstro e me cercava com gritos ora de desdém, ora de ódio  E a musa dos seus devaneios lhe oferecia a distância  E eu assistia e mais nada falava  Porque para quem nada foi fácil O coração desaprendeu a amar. Alyne Costa, maio 

Ciclo

 Amo em ciclos que se fecham  Enquanto pela janela aberta o vento soterra as lágrimas que insistem em não cair  E lágrimas não caem por erros  Muitas vezes elas debruçam-se pelo que mão foi vivido ou dividido  Pelo que foi adiado e não foi sentido  Escolhas não são meu forte Desenho um beija-flor que alivia minhas falhas A poesia e a solidão não me bastam  Quero asas pois já não tenho tempo! Alyne Costa, 4/05/2025
 Talvez não seja amor E baste um banho quente com sabonete cheiroso  Depois preparar uma sopa de abóbora com bastante coentro  Talvez saudade de uma voz do outro lado da linha  Um frio na espinha  Talvez basta um cobertor  E a gente, meio carente, já pensa que é amor Talvez seja a noite escura, o papel, a caneta, um café Mas só pra sentir esse aroma de delícia E a gente já sabe que dura Talvez seja amor esse pão recheado de ternura. Alyne Costa, 2/05/2025
 A escuridão me conduz a detalhes  Aparto-me de mim Nua no cais, ouço o segredo mais abstrato das ostras Talvez eu também seja uma… Aprendo um novo idioma  Rogo-te um beijo cálido Sem cálices Preparo-te um carinho É que os mistérios da vida rondam-nos com avidez E entre a dúvida e o desespero  Acordo do sonho em seu travesseiro. Alyne Costa, 22:04/2025
  A delicadeza cura Em “Caminhos do Coração” Gonzaguinha canta que aprendeu que se depende sempre de tanta, muita e diferente gente... De fato cada um dá o que tem, o que nutre no fundo da alma, uns dão indiferença, ausência, outros, estupidez, alguns outros dão cuidado, afeto, caridade e a fina flor da amizade. Acometida de uma forte gripe alérgica que me levou a adiar compromissos importantes para minha vida, pude observar que nem sempre é preciso desacreditar das pessoas, enquanto uns seguem sua saga louca por dinheiro, bens, status, outros possuem outro paradigma de valores. E, a essa altura da vida, convém saber bem efetuar escolhas de quem você tem do seu lado na sua construção diária de afetos. Ter afeto é nutrir responsabilidade sobre o outro, não a de pagar conta, sabe? Essa tem que ser dividida, mas a responsabilidade de oferecer ao outro o que o outro lhe oferece. A reciprocidade é matriz dos indissolúveis afetos. É aquela que destrava a chave e abre porta para...
  No Azul das Orcas   As baleias possuem segredos. No absurdo abismo entre o mar e o sol. Seu profundo alento. Seu absinto. Seu desejo extinto. Como atrás de toda festa há uma seresta. Cuidado com a moita. Atrás de uma fotografia num álbum de viagens ou casamento: Um só lamento. Os esquecidos Os fora de padrão Os loucos Os mortos As bruxas As santas As tontas As tantas E o segredo já morreu. Atrás de um bob e uma toca. Dentro de uma caixa de bis.   Alyne Costa, 2022
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  Dois Retratistas Lugar comum em cidades do interior nos velhos tempos e figura ímpar para lá de importante era o retratista. Sempre chamados para os eventos mais importantes como batizados, casamentos, eram eles que registravam com suas lentes em seus laboratórios a história local, crianças, casais e festejos, nada escapava de suas lentes vorazes. Em Igaporã, havia, como sempre, uma certa peculiaridade. Ali não havia um só retratista, eram dois: Seu Zé e Seu Aloísio, retratistas. Os dois eram vizinhos de parede meia e nunca se ouviu falar de qualquer desavença entre ambos. Exerciam seu labor coincidente na maior pacificidade e não me lembro de um ter mais fama ou ser considerado melhor ou com mais virtudes na arte da fotografia que outro. Se alguém tinha preferência seria tão somente pela disponibilidade momentânea. Assim, nos antigos carnavais e festejos santos tirava-se muitos retratos e depois ia até à residência do respectivo retratista pagar e receber a foto. A...
  Templo Meu corpo é meu templo Sagrado em mim Minha missão e meu segredo Toca-o quem eu permitir E, por ser tão meu e tão sagrado As vezes leve, noutras cansado Guardo-o, volupstuosamente, para quem sinto amado.   Alyne Costa, 7/03/2025  
  Travessia e Silêncio   Muitas vezes o silêncio fala. Fala quando cala a alma. Fala quando sopra ao mundo. A dor de ser vivente e diferente. A dor que ninguém mais sente. Ser gente dói. Sentir dói. Amar dói. Partir dói. Uma dor que somente o silêncio traduz. Na travessia que é: Viver e Morrer.   Alyne Costa, 06/03/25
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 Diálogo solitário com Hilda Hilst Hilda, foi um absurdo ler Do Desejo naquela praia. Areia, cerveja, suor e sono e a curiosidade por certo. Aqueles versos xerocados e encadernados que eu lia ávida me transportavam para um Universo do que jamais eu tocaria. Desejo do diferente e talvez à época um delinquente ou marginal. Entre tanta novidade daquela literatura que se descortinava eu adormeci e o mar algum tempo me acordou a tempo de salvar a encadernação. Hilda, falam mal de mim como falaram mal de ti, mulheres que escrevem rompem tabus e trazem medo. Mas de fato esse lapso de tempo que nos distancia, me traria várias universidades, idiomas, títulos, casamentos, filhos, esperas, buscas e confrontos. Te fizeste arquiteta de ti mesma no teu lirismo beirando a embriaguez sutil dos primórdios dos meus primeiros versos. Não fui arquiteta de mim mesma, como tu fostes, fui algoz, juíza e talvez abrigo de mim mesma. As minhas sabotagens só amputaram as minhas dores. Os meus indeléveis vers...
Géia   Que a ciência desafie o sacral Já imortalizado em tantos ritos, ditos e mitos Que o desafio seja a razão da ciência Sua fina essência Mas que ela não ouse tocar na arte Que não viole a humanidade Eis o homem em completude Não só composto orgânico, células, tecidos E ortopedia Mas feito de toda magia Que vê na ciência o que amplia O que cria em prol da vida Eis o homem: material onírico Repleto do que ainda não se decifrou Sedento de dar a mão a seu igual Sedento de paz, de arte, de jardins em flor Somos todos corpos mergulhados nessa géia E quantas guerras se precisaria para destruir tudo que somos? Imortais nas lembranças Nos sorrisos de crianças Na heterogenia de todas as danças Homem, produto, meio, fonte e ponte Faz na terra sua lambança! Reverencie as cirandas, mas não cultue a guerra. Permita aos vindouros o mergulho na géia. Seja o artista deste palco Terra. Alyne Costa, 2002 (publicado anteriormente no Usina de Letras)
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  Esboços Roda a roda da vida Ciranda, chegada, partida Roda a gente doída Roda a gente ferida Roda a gente saudade Roda a gente e a verdade Roda a roda da vida Esboços de recomeços É a fonte É o monte É a ponte Roda a roda da vida Do moço boêmio Da mulher parida É o fim É a canção Pulsando em mim.   Alyne Costa, 13/02/2025
  Manual para lidar com poetas   Não faça muitas perguntas aos poetas Deixa que deles brotem as palavras que por assim se acasalam e viram poemas Não pergunte a um poeta as horas... Poeta é ser que vive além do tempo e das intempéries Zombe, chacoalhe, duble o poeta Mas nunca... Nunca o busque numa medida certa.   Alyne Costa, 5/02/25
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Imgem: Gustav Klimt, internet  Porque até já foi cantado que sonhos não envelhecem   Podia ser só de amor que ela vivia, mas havia sempre a sede de algo mais. Sede de um brilho no olhar, de um sorriso apaixonado que, repentinamente, gargalhava... Tinha, uma saudade imensa que marejava sua alma em momentos nem sempre oportunos... É que ela sabia ser cheia de vida e dessa vida mesma que nunca é perfeita, mas que brota e que vinga igual umbuzeiro próximo a lajedos, repleta de intempéries, com turbilhões de incompreensões, desavenças e outras coisas que a corroem e que nos leva a crer que nem sempre a suportaremos, mas que traz sempre uma florzinha miúda junto a um emaranhado de sonhos novos... E essa florzinha regada e cultivada com ternura e carinho sinceros nos traz esperanças e fé. Fé, esse monossílabo mágico que é capaz de nos reconduzir ao âmago de nossa existência e nos leva a acreditar em Deus e no perdão. E voltamos a dançar, sorrir, amar e encher de color...
 Canto aos Órfãos Canto agora aos órfãos de todas as guerras Com seu dialeto de desesperança Com sua tristeza distraída atrás de um riso torto Com seu semblante de quem admira um rio morto Como quem procura um pai e um porto Com um poema absorto. Alyne Costa, 31/01/2025
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Imagem: Diário do Centro do Mundo Uma História de Sem Terrinha Mariazinha, Mariazinha mora numa roça muito bonita Ela anda, ala anda E, na cabeça, ela traz sempre um laço de fita Ela mora com os pais numa região muito pacífica Lá eles plantam milho, feijão, mandioca, muitas frutas e até fazem seu próprio pão Um belo dia Joaninha chegou ao local em um carrão Se apresentou a Mariazinha como a filha de seu João Bincaram de corre corre, esconde esconde e morto ou vivo. De repente Joaninha falou pra amiguinha que ela iria se mudar pois aquela terra pertencia a seu pai bem como tudo aquilo que aqui estava. Mariazinha, muito sabia, responder à amiguinha que ela estava muito enganada. E que o pai dela ali em nada mandava, Pois a terra é de quem produz e de quem nela trabalhava. Que o seu pai estava ali e dali não iria sair pois o seu lema era "ocupar e resistir e produzir."  
  Ponte   Hoje eu só queria arrumar minhas gavetas da alma... Separar e organizar minhas fundações internas. Colocar os pingos nos “is” Hoje eu só queria saborear um cappuccino e aprender mais um pouco sobre a vida Tantas vezes dolorida, noutras fragmentada ou interrompida Hoje eu só queria reunir tudo que me nutre Que me faz ter sentido em prosseguir Com o tempo a gente aprende a ser mais gente A gente já conhece os limites e as imperfeições Hoje eu só queria um abraço Num abraço cabe um mundo O nosso mundo e o mundo inteiro Queria até uma chuva Um banho de chuva para lavar a alma Um carinho Uma lembrança Hoje eu só queria me carregar no colo e atravessar a ponte A ponte que existe entre o que sou e o que não se pode ser.   Alyne Costa, 10/01/2025