Da Suprema Utilidade da Poesia Porque e para que existem os poetas? Para que alguém diga a nós mesmos que o sonho faz parte da vida e, sem eles, seríamos máquinas sem afeto e as nossas próprias relações que tantas vezes nos nocauteiam sejam curadas. O poeta é, por essência, corajoso, desnudando sua alma nos diz exatamente aquilo que precisamos ouvir, como num toque divino a nos mostrar que não estamos sós. Leminski chama de loucura este estar poético de namoro eterno com o lirismo e o mundo onírico, não a loucura autodestrutiva, mas a loucura do êxtase de existir. Sem a voz dos poetas, essa voz que ressoa em cada canto de nossa alma, o mundo não seria sempre traduzido de forma singular e de formas sempre diferentes. O estar poético no mundo é um estar de privilégio e, concomitantemente de doação. O poeta nos convida a estar com ele e nos dá abrigo quando tudo parece perder sentido. A poesia é útil para que a centelha divina da criação nos dê sentidos. Sentido para...
Posts
Showing posts from 2025
- Get link
- X
- Other Apps
Lágrima Noturna Aprendi que viver é urgente E que das coisas mais certas vale muito mais um caminhar Caminho sempre e revejo pessoas E meu passo não se faz sozinho Mora nas minhas ternuras Há dentro de mim ainda um recheio de esperança Que habita a minha poesia e dança Dança com os mendigos malditos Com os órfãos aflitos Dança na solidão das minhas noites insone Dança na arrogância da moça infeliz Dança na esquina com pose de bailarina E existe até uma beleza nas despedidas A gente nunca sabe onde está o ponto final. E enquanto o galo não canta, sobra uma lágrima na garganta. Uma lágrima pelos que não aprenderam a amar. Alyne Costa
- Get link
- X
- Other Apps
Da Indignação ao Precipício Tem coisas que eu gosto muito, uma delas é recomeçar Recomeçar sempre, mesmo que a indiferença não aguente Recomeço todas as manhãs No café fiado No trago do cigarro Na mensagem de Alice Recomeço olhando o Oitizeiro onde os passarinhos moram Recomeço sempre e com a melhor das intenções Recomeço no passo leve de quem sabe ser honesta Recomeço e no fundo até acho graça dessa moça que não vai à Praça Acho graça dela ser tão bem comportada No fundo o seu comportamento é a medida do seu medo? Medo de morrer! Medo do que??? Medo de morrer! Alyne Costa, 07/08/2025
- Get link
- X
- Other Apps
Porque Escrevo? Porque escrever me é tão necessário? Escrevo porque sinto E no sentir me abrigo Escrevo porque não sou só, sou muitas Às vezes sonho, às vezes choro Às vezes calo, às vezes grito Escrevo pelo simples fato dele existir Escrevo ainda por tudo que não foi ainda vivido, apenas imaginado E porque há quimeras prossigo. Escrevo e sobrevivo. Alyne Costa, 29/07/2025 Porque Escrevo? Porque escrever me é tão necessário? Escrevo porque sinto E no sentir me abrigo Escrevo porque não sou só, sou muitas Às vezes sonho, às vezes choro Às vezes calo, às vezes grito Escrevo pelo simples fato dele existir Escrevo ainda por tudo que não foi ainda vivido, apenas imaginado E porque há quimeras prossigo. Escrevo e sobrevivo. Alyne Costa, 29/07/2025
- Get link
- X
- Other Apps
Sentimentos Extremos Gosto de sentir, sentir fragrâncias que me remetem a lembranças Cheiro de terra molhada ou do Patchouli que meu pai usava E tudo que sinto é extremo Minhas paixões todas são extremas Talvez, ridículas, mas são paixões A saudade que sinto também é extrema Ouço canções repetidas vezes Caminho extremamente com passos ora firmes, ora trêmulos Mas sigo A solidão fez morada em meus dias E o vento frio do inverno me abriga A vida pode ser incerta e nem sempre sabemos viver Importante é semear para depois colher E esse incomodozinho logo vai passar E um amor novo recheado de sentir intenso Me carregará pelas mãos Alyne Costa
- Get link
- X
- Other Apps
Solidão de véspera No inaudito dessas horas nuas Em que vago sozinha pelas ruas E a madrugada se cala ante os solstícios Somos deuses e deusas do silêncio Do silêncio insone E, nutrida pela cálida solidão das esperas... Essa mesma solidão das vésperas... Essa solidão que não tem nome Apenas rabisco meu grito Porque transmutas, ó homem? Alyne Costa. 16/07/2025
Vicente e a Borboleta Sorridente
- Get link
- X
- Other Apps
Vicente era um menino de 04 anos muito gentil e contente. Amava todos os binhinhos, dos rios, do mar, da terra e do ar. Queria até ser passarinho para aprender a voar. Ou quem sabe uma tartaruga-marinha para conhecer o mar? Ou um cachorrinho que pudesse viajar de fusquinha ou avião. Um gatinho, macio e fofinho que colocasse, de levinho, a mão. Um dia Vicente pediu à Mamãe um bichinho de estimação. Podia ser até um coelhinho daquesles estrela de animação. Vicente ficava um pouquinho triste, mas logo voltava a brincar. Na verdade ele já tinha seu zoológico particular. Já sabia que não era não, mas nunca na sua imaginação. No reino da imaginação de Vicente apareceu uma borboleta sorridente. Era azul e voava, melhor do que ele sonhava. De repente, Vicente fazia a borboleta ficar diferente. Virava preta e amarela, podia existir borboleta como aquela?
O Silêncio
- Get link
- X
- Other Apps
Talvez eu estava em silêncio Quando falava ao vento Mas volta e meia o dragão voltava e zombava da minha fraqueza Vociferava a sua maldade e a sua torpeza como se quisesse domar em mim a ausência dos seus sonhos E o menino se fez monstro e me cercava com gritos ora de desdém, ora de ódio E a musa dos seus devaneios lhe oferecia a distância E eu assistia e mais nada falava Porque para quem nada foi fácil O coração desaprendeu a amar. Alyne Costa, maio
Ciclo
- Get link
- X
- Other Apps
Amo em ciclos que se fecham Enquanto pela janela aberta o vento soterra as lágrimas que insistem em não cair E lágrimas não caem por erros Muitas vezes elas debruçam-se pelo que mão foi vivido ou dividido Pelo que foi adiado e não foi sentido Escolhas não são meu forte Desenho um beija-flor que alivia minhas falhas A poesia e a solidão não me bastam Quero asas pois já não tenho tempo! Alyne Costa, 4/05/2025
- Get link
- X
- Other Apps
Talvez não seja amor E baste um banho quente com sabonete cheiroso Depois preparar uma sopa de abóbora com bastante coentro Talvez saudade de uma voz do outro lado da linha Um frio na espinha Talvez basta um cobertor E a gente, meio carente, já pensa que é amor Talvez seja a noite escura, o papel, a caneta, um café Mas só pra sentir esse aroma de delícia E a gente já sabe que dura Talvez seja amor esse pão recheado de ternura. Alyne Costa, 2/05/2025
- Get link
- X
- Other Apps
A escuridão me conduz a detalhes Aparto-me de mim Nua no cais, ouço o segredo mais abstrato das ostras Talvez eu também seja uma… Aprendo um novo idioma Rogo-te um beijo cálido Sem cálices Preparo-te um carinho É que os mistérios da vida rondam-nos com avidez E entre a dúvida e o desespero Acordo do sonho em seu travesseiro. Alyne Costa, 22:04/2025
- Get link
- X
- Other Apps
A delicadeza cura Em “Caminhos do Coração” Gonzaguinha canta que aprendeu que se depende sempre de tanta, muita e diferente gente... De fato cada um dá o que tem, o que nutre no fundo da alma, uns dão indiferença, ausência, outros, estupidez, alguns outros dão cuidado, afeto, caridade e a fina flor da amizade. Acometida de uma forte gripe alérgica que me levou a adiar compromissos importantes para minha vida, pude observar que nem sempre é preciso desacreditar das pessoas, enquanto uns seguem sua saga louca por dinheiro, bens, status, outros possuem outro paradigma de valores. E, a essa altura da vida, convém saber bem efetuar escolhas de quem você tem do seu lado na sua construção diária de afetos. Ter afeto é nutrir responsabilidade sobre o outro, não a de pagar conta, sabe? Essa tem que ser dividida, mas a responsabilidade de oferecer ao outro o que o outro lhe oferece. A reciprocidade é matriz dos indissolúveis afetos. É aquela que destrava a chave e abre porta para...
- Get link
- X
- Other Apps
No Azul das Orcas As baleias possuem segredos. No absurdo abismo entre o mar e o sol. Seu profundo alento. Seu absinto. Seu desejo extinto. Como atrás de toda festa há uma seresta. Cuidado com a moita. Atrás de uma fotografia num álbum de viagens ou casamento: Um só lamento. Os esquecidos Os fora de padrão Os loucos Os mortos As bruxas As santas As tontas As tantas E o segredo já morreu. Atrás de um bob e uma toca. Dentro de uma caixa de bis. Alyne Costa, 2022
- Get link
- X
- Other Apps

Dois Retratistas Lugar comum em cidades do interior nos velhos tempos e figura ímpar para lá de importante era o retratista. Sempre chamados para os eventos mais importantes como batizados, casamentos, eram eles que registravam com suas lentes em seus laboratórios a história local, crianças, casais e festejos, nada escapava de suas lentes vorazes. Em Igaporã, havia, como sempre, uma certa peculiaridade. Ali não havia um só retratista, eram dois: Seu Zé e Seu Aloísio, retratistas. Os dois eram vizinhos de parede meia e nunca se ouviu falar de qualquer desavença entre ambos. Exerciam seu labor coincidente na maior pacificidade e não me lembro de um ter mais fama ou ser considerado melhor ou com mais virtudes na arte da fotografia que outro. Se alguém tinha preferência seria tão somente pela disponibilidade momentânea. Assim, nos antigos carnavais e festejos santos tirava-se muitos retratos e depois ia até à residência do respectivo retratista pagar e receber a foto. A...
- Get link
- X
- Other Apps
Travessia e Silêncio Muitas vezes o silêncio fala. Fala quando cala a alma. Fala quando sopra ao mundo. A dor de ser vivente e diferente. A dor que ninguém mais sente. Ser gente dói. Sentir dói. Amar dói. Partir dói. Uma dor que somente o silêncio traduz. Na travessia que é: Viver e Morrer. Alyne Costa, 06/03/25
- Get link
- X
- Other Apps

Diálogo solitário com Hilda Hilst Hilda, foi um absurdo ler Do Desejo naquela praia. Areia, cerveja, suor e sono e a curiosidade por certo. Aqueles versos xerocados e encadernados que eu lia ávida me transportavam para um Universo do que jamais eu tocaria. Desejo do diferente e talvez à época um delinquente ou marginal. Entre tanta novidade daquela literatura que se descortinava eu adormeci e o mar algum tempo me acordou a tempo de salvar a encadernação. Hilda, falam mal de mim como falaram mal de ti, mulheres que escrevem rompem tabus e trazem medo. Mas de fato esse lapso de tempo que nos distancia, me traria várias universidades, idiomas, títulos, casamentos, filhos, esperas, buscas e confrontos. Te fizeste arquiteta de ti mesma no teu lirismo beirando a embriaguez sutil dos primórdios dos meus primeiros versos. Não fui arquiteta de mim mesma, como tu fostes, fui algoz, juíza e talvez abrigo de mim mesma. As minhas sabotagens só amputaram as minhas dores. Os meus indeléveis vers...
- Get link
- X
- Other Apps
Géia Que a ciência desafie o sacral Já imortalizado em tantos ritos, ditos e mitos Que o desafio seja a razão da ciência Sua fina essência Mas que ela não ouse tocar na arte Que não viole a humanidade Eis o homem em completude Não só composto orgânico, células, tecidos E ortopedia Mas feito de toda magia Que vê na ciência o que amplia O que cria em prol da vida Eis o homem: material onírico Repleto do que ainda não se decifrou Sedento de dar a mão a seu igual Sedento de paz, de arte, de jardins em flor Somos todos corpos mergulhados nessa géia E quantas guerras se precisaria para destruir tudo que somos? Imortais nas lembranças Nos sorrisos de crianças Na heterogenia de todas as danças Homem, produto, meio, fonte e ponte Faz na terra sua lambança! Reverencie as cirandas, mas não cultue a guerra. Permita aos vindouros o mergulho na géia. Seja o artista deste palco Terra. Alyne Costa, 2002 (publicado anteriormente no Usina de Letras)
- Get link
- X
- Other Apps

Esboços Roda a roda da vida Ciranda, chegada, partida Roda a gente doída Roda a gente ferida Roda a gente saudade Roda a gente e a verdade Roda a roda da vida Esboços de recomeços É a fonte É o monte É a ponte Roda a roda da vida Do moço boêmio Da mulher parida É o fim É a canção Pulsando em mim. Alyne Costa, 13/02/2025
- Get link
- X
- Other Apps
Manual para lidar com poetas Não faça muitas perguntas aos poetas Deixa que deles brotem as palavras que por assim se acasalam e viram poemas Não pergunte a um poeta as horas... Poeta é ser que vive além do tempo e das intempéries Zombe, chacoalhe, duble o poeta Mas nunca... Nunca o busque numa medida certa. Alyne Costa, 5/02/25
- Get link
- X
- Other Apps

Imgem: Gustav Klimt, internet Porque até já foi cantado que sonhos não envelhecem Podia ser só de amor que ela vivia, mas havia sempre a sede de algo mais. Sede de um brilho no olhar, de um sorriso apaixonado que, repentinamente, gargalhava... Tinha, uma saudade imensa que marejava sua alma em momentos nem sempre oportunos... É que ela sabia ser cheia de vida e dessa vida mesma que nunca é perfeita, mas que brota e que vinga igual umbuzeiro próximo a lajedos, repleta de intempéries, com turbilhões de incompreensões, desavenças e outras coisas que a corroem e que nos leva a crer que nem sempre a suportaremos, mas que traz sempre uma florzinha miúda junto a um emaranhado de sonhos novos... E essa florzinha regada e cultivada com ternura e carinho sinceros nos traz esperanças e fé. Fé, esse monossílabo mágico que é capaz de nos reconduzir ao âmago de nossa existência e nos leva a acreditar em Deus e no perdão. E voltamos a dançar, sorrir, amar e encher de color...
- Get link
- X
- Other Apps

Imagem: Diário do Centro do Mundo Uma História de Sem Terrinha Mariazinha, Mariazinha mora numa roça muito bonita Ela anda, ala anda E, na cabeça, ela traz sempre um laço de fita Ela mora com os pais numa região muito pacífica Lá eles plantam milho, feijão, mandioca, muitas frutas e até fazem seu próprio pão Um belo dia Joaninha chegou ao local em um carrão Se apresentou a Mariazinha como a filha de seu João Bincaram de corre corre, esconde esconde e morto ou vivo. De repente Joaninha falou pra amiguinha que ela iria se mudar pois aquela terra pertencia a seu pai bem como tudo aquilo que aqui estava. Mariazinha, muito sabia, responder à amiguinha que ela estava muito enganada. E que o pai dela ali em nada mandava, Pois a terra é de quem produz e de quem nela trabalhava. Que o seu pai estava ali e dali não iria sair pois o seu lema era "ocupar e resistir e produzir."
- Get link
- X
- Other Apps
Ponte Hoje eu só queria arrumar minhas gavetas da alma... Separar e organizar minhas fundações internas. Colocar os pingos nos “is” Hoje eu só queria saborear um cappuccino e aprender mais um pouco sobre a vida Tantas vezes dolorida, noutras fragmentada ou interrompida Hoje eu só queria reunir tudo que me nutre Que me faz ter sentido em prosseguir Com o tempo a gente aprende a ser mais gente A gente já conhece os limites e as imperfeições Hoje eu só queria um abraço Num abraço cabe um mundo O nosso mundo e o mundo inteiro Queria até uma chuva Um banho de chuva para lavar a alma Um carinho Uma lembrança Hoje eu só queria me carregar no colo e atravessar a ponte A ponte que existe entre o que sou e o que não se pode ser. Alyne Costa, 10/01/2025