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Showing posts from 2010

O Menino e o Carrocel

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POR ONDE PASSA A CANDURA DO TEU OLHAR DESPERTAS MEU SORRISO COMO UM RIO QUE CORRE PRO MAR ME SENTO MUDA, RECOLHIDA NO MEU ÍNTIMO SOPRO INFANTIL NESSE MEU PEDAÇO DE BEM QUERER! ESSE, QUE A GENTE OCULTA, MAS TEME PERDER. OLHO SUAS HÁBEIS MÃOZINHAS DESLIZAREM SOBRE O PAPEL TINTA, ALGODÃO-DOCE, SORVETE, CARROSSEL... EU TE VEJO MENINO E JÁ CAMINHAS SOBRE AS NUVENS, ESCUTANDO A VOZ DO VENTO, CRIANÇA COMO TU. E, ASSIM, COMO UM CARNEIRO ARREDIO, NÃO ESCUTAS A MAIS NINGUÉM... E EU ME CALO, ABUTRE QUE SOU, ESTARRECIDA QUANDO TE ARRANCO UM NÃO... E ME ENTORPEÇO VENDO A INOCÊNCIA BAILANDO LIVRE EM SEU CORAÇÃO ALYNE COSTA SSA, 29.07.91 PARA MEU IRMÃO RAFA, NOSSO TELENGO-TENGO

Contrabaixo

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Era só o contrabaixo e a estrela russa que bailava nua. Solitário na orquestra, pedias um maestro com asas de metal. E me acordava o barulho do metrô em construção. Algum espectro ou assombração. E na avenida carnavalesca que ainda acordava: Os passos do all star acompanhavam uma gringa qualquer. Sem rebolado. Palavras em alemão me levaram à janela. Podia ser um bilhete de loteria, mas era triste e eu via. Não, não era triste, era sincronicidade. Era carnaval acordando a cidade. O contrabaixo agora fazia a melodia no meu coração. E eu perguntava pela lágrima que não vi de Tereza. Teria partido de avião ou navio? As mãos de Tereza tinham rugas frias. E seu sorriso não dançava valsa. Amei teus segredos, dissimuladamente... As tantas histórias. A gramática rica. Naquele tempo a minha magreza superava a de Tereza. Tereza, tristeza que eu nunca compreendi. Salvador, 21 de dezembro de 2010 Alyne Costa, para Victor Hugo da Rocha

O Preço da Prudência

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Hoje a minha inspiração foi visitada pela prudência... Inúmeras vezes na vida pagamos o preço da nossa imprudência que parei para avaliar o que não pagaremos por sermos excessivamente prudentes? Desde criança somos brindados com prudentes conselhos dos adultos responsáveis por nossa saúde e bem estar: não ande descalço, não fique no sereno, cuidado com a chuva, saia do sol, e outros, escandalosamente, desarrazoáveis como não tome leite que você acabou de chupar manga, não corra porque você está menstruada... O universo feminino sem dúvidas é bem mais tolhido por este excesso de zelo que o masculino, mas a prudência cerceia homens e mulheres sem distinção. Não quero aqui um manifesto à irresponsabilidade. Não. Canja de galinha é saudável sim! Falo é de quando prudentes demais, econômicos demais, responsáveis demais, deixamos de voar, sonhar, arriscar e assim avançar. A prudência é uma virtude, mas nenhuma virtude é para fincar-nos ao chão feito árvores. Conheço uma senhora tão prudente ...

Lousa

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Hoje me visita uma espécie de prudência. Como se tivesse febre do seu aconchego e me chamassem Rúbia. Como se trocada a identidade eu fosse uma nova fábula. E no fundo do boteco, violinos e oboés, evocassem uma anunciação. E, talvez, me chamassem Maria Tereza, só para dar as mãos um pouco mais de firmeza. Para dar aos passos trôpegos, alguma destreza. E, talvez, certeza, aos novos caminhos. E eu, vôo e vou, passarinho, sozinho. Bicando-flor, Joana de Barros, De Moura: Amarro o laço dos sapatos. Só pra não tropeçar. Mas permito quedas novas. Que vida, Dona Sem Nome e Sem Sobrenome, é de remendo e cicatriz. E assim, se faça aprendiz. Refaça-a sempre, na lousa com giz. Alyne Costa 4/12/2010

Vôo Livre

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Eu não sei esse idioma, confesso. E, assim, meu sorriso finge entender Aquilo que já não se faz segredo E nessa avenida da vida tantas vezes enfeitada Há cores do que não me comove mais Mais em um canto surge uma lágrima muda Uma lágrima santa que grita: Absurdo! É a solidão de uma lágrima única. E todo silêncio cresce ao redor. Silêncio de fêmea que traz nas entranhas da alma uma indignação sufocada. Sem alarde. Discreta e morna. Que assombra os sonhos da mulher. E essa indignação passeia calmamente por jardins encantados. Joga runas, ri alto do que não tem mesmo jeito. O desespero é a matriz dos fracassos. E mulher foi feita sob encomenda para sagradas esperas. E assim ela assiste ao mundo. Ela gira. Ela gera. Ela faz fibra da vida e transmuta. Desespero é redoma de sofrimento. Mulher cresce quando abraça o vento. E voa livre muito mais feliz. Alyne Costa 20/11/2010

Terapón

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Com ela aprendi significâncias e significados... Aprendi que terapeuta é quem caminha junto. Depois descobri que este caminhar ao lado é por um tempo, depois a vida dá um jeito da gente ir sozinho. E foi assim no que eu descreveria como um inesperado salto de paraquedas: Salta! Agora é com você. E você tem a obrigação de sobreviver. Não tivemos tempo de preparar despedidas, de tomar sequer um café naquela cafeteria que tanto gostamos. Não vivi o luto, não digeri, foi literalmente uma despedida por decreto que nós mulheres muito ladinas entendemos porque sabemos que murro em ponta de faca na melhor das hipóteses gera corte e cicatriz e isso lá no fundo não é melhor pra ninguém. Mas não posso deixar de ponderar a força da passagem dessa mulher em minha vida, de suas lições e do quanto ela se faz presentes em coisas que tempo, vento, decreto nenhum apaga. Com ela eu perdi o medo. Medo das paredes da minha casa. Medo do que era meu. Medo dos meus talentos e sonhos. Medo da língua alheia, ...

Meu Machão

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Devia estar na casa dos seis anos quando o ganhei de presente. Era de plástico e imóvel. Usava uma camisa vermelha de mangas compridas onde estava escrito “MACHÃO”, assim mesmo em maiúsculas e possuía a genitália desnuda em contraste. Foi presente de Tia Marta, sempre provocativa com os sobrinhos. Devo ter ficado rubra a princípio com o presente. Eu acostumada com bonecas bem comportadas ter que lidar com aquele intruso de piroca de fora no meio delas. Mas achava muito legal aquela camisa vermelha e a palavra “MACHÃO”. Não tivesse ele as pernas grudadas eu juro que lhe arrumava umas calças cumpridas. Tia Marta ficou muito tempo por perto assistindo minhas reações com o Machão, devia estar se divertindo com meu constrangimento e até brincou comigo, dando vozes e falas ao boneco, entrosando no meio dos outros brinquedos e eu comecei a ganhar intimidade. Em muito pouco tempo Machão já havia virado o rei do pedaço. Disputado por todas. Era marido de um, amante de outra. E meu reino infant...

Banho de Cachoeira

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Ando com nervos em êxtase Tão sem saco que nem esmalte de unha quero tirar... E quem precisa de um crime de novela? Basta o debate dele com ela. Bastam os novelos que a vida revela... Não acredito em manchetes de jornais. Prefiro o absurdo que ninguém é capaz. Ficar muda e captar sinais. Encontrar ET’S em Minas Gerais. Eu sinto sede, eu tenho cisma, eu sinto sono. Eu perdi a hora, eu perdi o ritmo, eu perdi o rumo. Eu não me emendo, eu não me entendo, eu não me aprumo. Não lavo a loça, já não sou moça e nem me arrumo. Meu time perdeu, meu dente doeu, meu filho cresceu. Não rôo unha, mas como a cutícula. Me apareceu uma pedra na vesícula. Tô que nem Tiririca: Pior não fica. Já não tenho medo, mas guardo segredo. Uma parte de mim apodreceu. A outra parte amadureceu. E uma mulher se edificou. Inteira e apesar das cicatrizes, colhe flores e serenidade. O futuro é um navio sem rumo certo. Quero um banho de cachoeira. Salvador, 11/10/10, Alyne Costa

Aprendizado

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Gustav Klimt Em nossos olhares um estranho ballet de reminiscências. De dúvidas são feitas o Amor. No porão das minhas angústias não há mais nenhum medo. Nenhum sigilo ou segredo. O cofre de minh’alma arrombado. Vísceras expostas, saudades mutiladas. Meias-verdades inacabadas. Estou triste. Só isso. E sei como bem vinda é a alegria. Mas permaneço triste. Essa tristeza que parece até edificar a vida. E que, como troco, lhe dá algum sentido. Logo, logo ela passa e volto a ver meninas com tranças dançando na chuva. Mas deixa eu vivê-la: errado ou certo, aprender com ela. Deixa ela escorrer em minhas lágrimas mudas até o final. Logo amanhecerei sorrindo, cantando, dançando e feliz. É que dessa tristeza eu sou aprendiz. Alyne Costa, Julho de 2010

A Esperança e As Caravelas

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Blue Nude II Henri Matisse Por entre avenidas e flores Meu ressentimento primeiro Holofotes anunciam guerras E meu canto sereno apenas pede: Paz As minhas lágrimas mudas molham as calçadas E um vendedor de balas distraído anuncia uma alegria fugaz Sozinhos meus passos seguem em paz. Em busca de um caminho que já não me lembro mais. Pouco importa, tanto faz. A fria indiferença ante anúncios de jornais. Aqui jaz a vida: mutilada, esquecida. Também se foi a crença e um bocado da fé. Esperança, teu nome é de mulher. Possuis em teu ventre o dom de gerar. Tecelã do fio da vida: borda um novo amanhã. Com meninos brincando em carrinhos de rolimã. Vai, analfabeta e aprendiz, bailarina ou atriz. Rabisca um mundo novo no quadro de giz. Reconstrói e apaga de uma vez quanta atrocidade persistir e surgir. Faz com sua delicadeza um mundo com poesia de Gentileza. Em que a gente não sucumba ante à dor e à vil esperteza. Traça em sua tela um mundo de novas caravelas. Descobridoras de novos corações e t...

Minha Terra É O Mundo

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Sou de tantas terras que já nem me lembro mais... Terras de paus-brasis, Caetités, Igaporãs e Serras Gerais. Sou da porção que cabe, neste latifúndio de mundo, Cada qual no seu pedaço... No seu cantinho de mundo. Eu sou de tudo que é lado que é feito de cantoria, Onde meu peito rebenta, chora de pura alegria. Eu sou de qualquer lugar e feita de qualquer sorte. Sou flor na invernada e alforria na morte. Sou preguiçosa e sem rumo, uma cabeceira de rio que depois escorre manso: Pra assombrar num vazio de uma cachoeira alta. Sou moça já nos quarenta. De quarentena da vida. Por isso pergunte de onde vim: Do vente de minha mãe e do prazer de meu pai, mas nunca de onde sou. Sou apenas de onde estou: Uma labareda acesa: Ora riacho, noutra correnteza. Que essa vida, amiúde, é feita de muita aspereza. E se nasci d’um grito profundo : Minha terra é o Mundo! Alyne Costa 23/05/10

Poetas Anônimos

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Somente tua alma foi dilacerada. Pouco importa tuas contas dadas. Regras, leis, CLTs, anúncios de jornal... És sempre o culpado. Há os que amem os poetas anônimos, os que se rasgam e não se entregam... Há também aqueles que só te consideram enquanto poetas íntegros: que se dilaceram... Há os que esperam suas vestes rasgadas, Suas noites insones... Seus versos dobrados sob o papel. Aí, eis poeta! Com chances, passaportes, canudos... Flores, belas vestes, escudos... Das suas dores ninguém quer saber, poeta! Ela e sua e só a ti pertence! O apogeu de todo mal. Que importa o que importa se não pagastes a conta? O sanatório? A exoneração? A aposentadoria por invalidez? Não pagastes a mensalidade da filha da filosofia.... A mãe de tua agonia. E agora poeta? Para que comprastes brigas? Para ouvir a lei mais rica de quem se corrompe ao mal? Vai, poeta, cala-te, agora.... Paga tua conta e vai embora.... Entender e a veia matriz do maior mal. E já que não tens dinheiro, vendas canções de fevereir...

Aviso da Lua Que Menstrua

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Moço, cuidado com ela! Há que se ter cautela com esta gente que menstrua... Imagine uma cachoeira às avessas: cada ato que faz, o corpo confessa. Cuidado, moço às vezes parece erva, parece hera cuidado com essa gente que gera essa gente que se metamorfoseia metade legível, metade sereia. Barriga cresce, explode humanidades e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar mas é outro lugar, aí é que está: cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita.. Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente que vai cair no mesmo planeta panela. Cuidado com cada letra que manda pra ela! Tá acostumada a viver por dentro, transforma fato em elemento a tudo refoga, ferve, frita ainda sangra tudo no próximo mês. Cuidado moço, quando cê pensa que escapou é que chegou a sua vez! Porque sou muito sua amiga é que tô falando na "vera" conheço cada uma, além de ser uma delas. Você que saiu da fresta dela delicada força quando voltar a ela. Não vá sem ser convidado ou sem os devidos corte...

Cortinas

Porque eu talvez tenha me dividido em viver o que não havia ainda vivido. E antecipado o tempo, feito flor de ressentimento. E porque muitas vezes visito o passado, criando afeto feito gado. E porque lembro bem dos meus tempos de criança, sempre me surge esperança. Quando eu já não agüento mais. Me lembro dos tempos em que meu avô partia melancia: A faca em sua mão desenhando as talhadas... Eu sempre ganhava o miolo: a parte mais doce e suculenta. Meu avô assim, me abria as cortinas da vida. Alyne Costa 1/05/10

Nunca se sabe se um anjo está no começo ou no fim da fila...

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Acredito mesmo que de pequenos gestos ou posturas mentais podemos abreviar caminhos e atrairmos situações. Gentileza e cordialidade nada nos custam, mas podem e como enriquecer nossas vidas e as que com elas se entrelaçam. No meu trabalho lido diuturnamente com pessoas com determinados tipos de problemas a serem resolvidos. São estas pessoas que ao pagarem impostos, pagam também meu salário e, ciente que devo atendê-las, orientá-las e encaminhar a resolução de seus problemas optei por tornar este momento mais leve, para as duas partes. Certa ocasião, uma pessoa me questionou: “_ É assim todo dia? Como é que você agüenta ouvir tanto problema?” Apenas respondi: Alguém tem que ouvir! Inúmeras vezes o que a pessoa apenas precisa é ser ouvida. Não que eu seja um exemplo sublime de paciência. Decididamente não o sou. Mas acredito mesmo que se você conseguir ouvir, dar um sorriso, olhar para a carteira de identidade do cidadão, fazer uma pergunta sobre sua cidade natal, dizer um elogio sincer...

Aflição

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Rio de Contas - Ba As questões que me trazem não me remetem a nenhum absurdo. São questões apenas para os gênios que desistiram de amar... Mas aprendo a conviver com elas e me permito a redemoinhos d’alma. Sumo... Fico distante. Dispersa, para ver melhor. Apreendo os segredos de tuas rugas. E, na saudade, cheiro a essência em tuas vestes. É que isso que chamam de Amor não é lá coisa de ciência. É coisa simples de se viver com consciência. E entre o Amor e as questões que me trazem. Prefiro apenas muda o Sentir. Porque tuas questões pertencem a ti. A mim, pertencem as dúvidas que sequer nasceram, Ou ainda verdes, pedem... Aguardam o estio ou a tempestade para desabarem todas. São como frutos de tudo que não respondi. Das vezes que me calei e de outras que gritei ao infinito. Essa coisa de quaresma me deixa mesmo em pleno estado de aflição. E, aflita, viajo a templos que não te são permitidos. É que essa coisa de Amor não precisa de definição. Alyne Costa 14/03/09

Carta do Cacique Seattle

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Carta do cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, a Franklin Pierce, presidente dos EUA, em 1854 A carta “O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem. Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de ar...

Eu Quero a Esperança!

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“Os pássaros da madrugada não têm coragem de cantar, vendo o meu sonho interminável e a esperança do meu olhar.” Cecília Meireles (Meu Sonho) O que esperar de um ano que começa? Lembro de um poema de Drummond: “Quero ver o mundo começar a cada começo de Janeiro como o jardim começa da imaginação do jardineiro.” Quase todo começo de ano vem assim: votos de felicidades, listas de planos ainda que nem sejam traçadas no papel, e-mails a amigos queridos, distantes ou não, perdões, reflexões, quebras de antigos paradigmas... A gente queria na verdade era nascer de novo... Nascer de novo não é tarefa impossível, principalmente para os que têm alma de poeta. A gente pode optar por renascimentos diários quando escolhemos adentrar no nosso próprio ritmo, nossa capacidade de reinventar-se, de desenhar novas janelas e abri-las para a vida. Dedicar atenção aos pequenos gestos, aos detalhes dessa vida rica, bela, com um sol que nasce e morre para que possa aparecer a lua. E se há tempo nublado, turv...