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Showing posts from 2009

Feliz Ano Bom

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Adeus, ano velho com tantos dissabores, dúvidas e lágrimas vãs... Escorre pelo rio da vida e leva consigo todas as nódoas para que e nem possa me lembrar mais! Leva consigo os laços rompidos e as torrentes de desilusão. Os anúncios macabros das manchetes de jornais. Os falsos comérciais. A fome, as enxentes, as noites sem lua e os dias sem luz. Vem, Ano Bom... Brota em meu peito feito flor sem espinho. Vem depressa e cantarolando... Assobia por uma vida mais feliz. Dobra a página do que já passou e de tudo que não tem remendo. Assobia uma vida nova, enfim... Um mundo mais farto e justo. Um mundo novo, com a santa permissão da esperança. Te recebo com mãos de fada. Acendo todas as tochas para que não percas os rumos do bem. A ti brindo a reconstrução de todos os afetos. Os trilhos do novo caminho já não são sozinhos. Vem feito dia ensolarado e qual noite encantada. Nasce e brilha! Vem com belas certezas e força de correnteza. Pula as ondas... Vem Ano Novo e reitegra, homem e vida. A ti ...

Devaneios Pof Pof

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Existe alguma ternura nos amores à distância, assim como diversas podem ser as formas de amar. Pro coração poeta, o amor é fonte de onde jorram palavras, devaneios e novas esperanças. É que o poeta não pode sobreviver sem amar. Ou sem sua eterna busca... Ai dos que penam pelo excesso de razão. Dos que não olham pela janela as copas das árvores e não sonham ver nas alamedas tapetes de flores. Cazuza adorava “um amor inventado”, docemente exagerado... Eu também amo escondido, faço versos melosos, caio no ridículo. Eu danço o amor, eu pinto em telas o amor que não vejo nas novelas. E ele é muito fácil de amar. Ele é grande e tem a alma confortável. Ele é paciente e leonino. Ele mente com uma suavidade coisas que eu gosto de ouvir. Ele usa uma medalha de Maria de Nazaré. Aquela medalha me deu segurança porque na primeira vez que o vi, tremi de medo... do que poderia sentir. E ele é tão doce que me deu vontade de amar. Ele não viola, sabe ouvir. Ele está distante. E eu preciso dessa ausênci...

O Abraço da Consciência Negra

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Soam longínquas as espumas brancas dos mares atravessados pelo Navio Negreiro de Castro Alves... Mas ainda arde a pele açoitada em tantos pelourinhos. Ainda vive Zumbi nas camisetas coloridas e jamaicanas. Consciência eloqüente e negra, consciência mãe do Brasil. Ainda brilham em museus ornadas jóias designadas: escravas. Ainda há um abismo a separar raças. Um pai abraça o corpo do filho tombado ao chão. Cinco horas de abraço. Amor que não tem cor, nem raça, nem estirpe, nem religião. Amor que tem a dor do corpo do filho tombado ao chão. Vidas jovens ceifadas. Destinos lançados ao léu. O pai não terá mais vida sem dor. Mas aquele abraço que me derrubou em lágrimas. Aquele abraço permanecerá em minha memória e renascerá em cada abraço em meu filho. Aquele corpo tombado ao chão... Cada corpo de jovem tombado ao chão. Leva consigo uma nação. E leva também as nossas canções de esperança. Alyne Costa Salvador, 21/11/09 Para Nilton dos Santos, vigilante, que perdeu o filho de 18 anos na noit...

Mãos

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Mora em ti um sentido: Tato. Cai-lhe bem o afago. O cabo de enxada. O aceno. Traças arquiteturas do infinito. Pontes e construção. Rabiscas atas, assinas duplicatas. Cai-lhe bem a caneta e o pincel. Discorres notícias e poemas. Cava a areia. Acaricia peles, dúvidas e almas. Borda um sonho. Firme, encaixa o prazer. Trêmula, guia e oscila. E na ânsia do desconhecido, ergue-se ao céu. Segura a do irmão e ganha força. Ergue torres. Membro, Segura o planeta! Alyne Costa 8/11/09

Para nunca Esquecer - Herman Hesse

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"Para que resulte o possível deve ser tentado o impossível." Herman Hesse Um mergulho na obra de Herman Hesse é inquestionavelmente aprofundar-se na condição humana. E ao retornar à superfície nos defrontamos com um novo ser. Quer pelo humanismo ou pelo espiritualismo, a obra de Herman Hesse, como todo gênio literário, não apenas marcou gerações, mas atravessou a temporalidade consubstanciando-se numa obra para a humanidade. A vida do escritor está de certa forma fotografada em sua obra. Suas vivências assinam sua literatura, atuando como divisor de águas. Talvez o adolescente rebelando-se contra a vocação imposta pelos pais nasce em Demian e Peter Camenzind. Ao desvencilhar-se do que foi imposto e, abandonando os rumos traçados pela família, em busca de um outro mundo o Autor que não foge (“Nenhuma dor justifica a fuga”), enfrenta as dilacerações de uma alma adolescente e desenha em sua obra a dor do adolescente de todos os tempos, sua sede de sonhos, suas ânsias ...

A Menininha do Vestido Vermelho

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Na infância olhamos o mundo com inocência e sonho. O medo é mais medo, a dor é mais dor, o riso é um riso que não quer parar mais e o doce é mais gostoso que colorido. São nossas primeiras reações perante o mundo que nos parece desmesuradamente grante. O Japão é tão longe e tá embaixo do nosso pé. A emoção se acumula, ainda que momentânea no peito. Um abafo cresce aliado à uma plena sensação de impotência que faz com que coloquemos a solução nas mãos do adulto mais próximo: e aquele adulto vira um super-herói que não pode falhar. Lembro-me que aos 5 anos fiz uma viagem com meu pai ao interior. De ônibus, eu e ele. Próximo às nossas poltronas havia outro pai que também viajava com sua filhinha. Ela também de 5 a 6 anos, cabelinho claro, liso e com laço, vestidinho vermelho e sapatinho com meias brancas. Era a versão humanizada da boneca que eu queria ter. Chegamos a uma cidade qualquer e seu pai desceu. Ela dormia... Eu não, acompanhava cada movimento de face da minha boneca em forma de...

Camaleão

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Ontem lembrei dos lambe-lambes e dos camaleões da Piedade. Sumiram. E me lembrei dessa música de Caetano. Acho que vou desenhar camaleões... Rapte-me Camaleoa Caetano Veloso Rapte-me camaleoa Adapte-me a uma cama boa Capte-me uma mensagem à toa De um quasar pulsando lôa Interestelar canoa... Leitos perfeitos Seus peitos direitos Me olham assim Fino menino me inclino Pro lado do sim... Rapte-me Me adapte-me Me capte-me It's up to me Coração Ser querer ser Merecer ser Um camaleão... Rapte-me camaleoa Adapte-me ao seu Ne me quitte pas...

Desespero de Vida

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Djanira, Anunciacão. Tentei agarrá-la pelas mãos, Escorreu-me entre os dedos. Tentei bebê-la em doses homeopaticas,a conta-gotas... Dosada. Fatou-me os efeitos colaterais. Enfrente-a só... Fez falta a dádiva maior, Dividí-la. Decidi a ela doar-me sem precaucoes. Rendida. Sobrei-me inteira e fértil. Amei o mistério impalpável, Vida! Orgasmo infinito. E quero-te assim. Com perigos e riscos. Em total desassossego. Alyne Costa setembro;2009

Antes dengosa...

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Tava me sentindo mal... Mal mesmo: corpo doído, molinha, molinha, tosse e muita tosse, tudo havia começado com uma dor de cabeça. A tese dos médicos infectologistas vinha à tona: “Só procure as emergências de hospital em último caso, gripe se cura em casa e com boa alimentação e repouso.” Mas a tese se confundia com meus sintomas, eu já me via num quarto de isolamento... Mas faltavam os vômitos, gripe suína apresenta vômitos e não vomitava, mas também não comia, não tinha o que colocar para fora. Só que os senhores médicos infectologistas das entrevistas aos telejornais se esqueceram de um pequeno detalhe legal: se alguém estuda ou trabalha precisa de atestado médico não dá para apenas comunicar a quem de direito que você está com sintomas de virose (sabe-se lá qual) e que é melhor ficar em casa repousando, tomando sopinha que abarrotar os hospitais. O fato é que a coisa foi ficando feia e eu não melhorava: emergência, não tinha outro jeito. Ninguém queria ir comigo, culpa de quem? Des...

Samba de Encomenda

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Noel Rosa, foto retirada do site www.aguaforte.com Se duvidar eu te faço um samba, amor Como aqueles de Noel Com endereço e rumo certo Com letra bordada no papel. Te faço um samba já que não sei sambar... Limpo seu uniforme Te vejo desfilar... Preparo sobremesa para após o jantar. Te dou até a malandragem que restou Na alma da poeta que não desanimou E se me prometeres qualquer carinho Eu faço um samba alegre, com jeitinho De cabocla ouriçada que aprende a sambar Para até mais tarde contigo ficar Pelas alamedas da boêmia E encomendo sobras de alegria Nem mesmo há motivo para chorar Se ainda duvidas te acordo com um samba Daqueles de carteira de gente bamba E se não tenho roupa para ir contigo Alugo com a grana de qualquer amigo Uma fantasia de passista Que sacode um samba que dorme na alma Feito de encomenda e de desafio De puro amor, loucura e desvario. Alyne Costa, 7/09/09

A Teu Dispor

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Foto by Alyne Costa De tanto esperar recrio tua presença Entre miragens e guetos Armo um altar de acácias Limpo o assoalho dos passos que não dei Rabisco, altiva e fria música francesa Assobio e presto atenção num canto de bem-te-vi Lembro que hoje não vi beija-flor Nem graça nos azulejos antigos da cozinha Hoje dormi na tua presença e nela fiz festa Hoje seu abrigo foi meu ritmo favorito E enquanto a lua cresce Me agasalho a teu dispor. Deixo penetrar por meus dedos os grãos da terra Fecundo em mim um reino novo Com cheiro de melancia e mala vazia Peguei o último vagão. E cheguei a tempo de rir do destino. Alyne Costa Salvador, 29/08/09

Véspera

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Foto retirada do site www.japiassu.com.br Antes batia-me a porta... Agora sobe sem anunciar as escadas: Ignoras o cadeado. E me trancafia entre segredos que não me tormentam. Antes calava ante minha dúvida maior. Tinhas vergonha de peido. E arriscavas cantigas ao microfone. Tudo para me comover? Ou talvez tornar-se algo que simplesmente inexiste. Hoje meu amor não navega, voa. Hoje faz de meu dono sem escravizar. Sabiamente tolera o que irrita. Ri das minhas bobeiras e me faz mais fêmea que jamais supus. Hoje esse amor sobe elevador. Interfona avisando a chegada. Tem ética singular e anda de tênis pelas calçadas. Meu amor anda passo a passo comigo, mesmo em tua ausência. Tem e-mail, endereço e telefone fixo. Amor que feito ave pousou na adolescente que sem sentir virou loba. Amadureceu. Crou vôo próprio e asas firmes. Amor que ouve Vanessa da Mata e Vander Lee. Amor que aconchega e abraça se faz frio. Que sussurra a alma encantos celestes. Amor sem fronteira. Com cabeceira de cama enf...

Terra Mater

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Entre hortências e pés de café Sonho virar parteira E as raízes que sugam o néctar do solo me sussurram segredos antigos Que no coração da natureza tanto faz bicho ou gente Flor ou semente Beija-flores rodopiam E entre um ou outro ninho de passarinho Um vaga lume percorre a noite sozinho Sinto cheiro de vida E uma brisa leve acalanta qualquer receio Aprendo manha de serpente E a mata ganha forma de gente Já nada mais sou que parte deste ciclo da vida Vida campesina possível e real E a mão do poeta colhe as hortaliças viçosas A mão da poeta prepara um café E tudo passa a ter um sentido que a mente não compreende Porque nem tudo é passível de compreensão Basta os sinais lidos pelo coração Que atravessa a mata e escala as montanhas Que rocha, bicho, água, flores e ervas dão a lição Terra Mater, mãe da vida Da flora e fauna, da gente oprimida. Mãe de acalanto profundo. De respeito à natureza e ao mundo. Alyne Costa Maio de 2009 Para Dato e Telma

Flor de Pensamento

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No infinito onde habito apenas reinam pensamentos Com cores claras e alguma saudade até do tempo que era criança No carnaval minha mãe fazia fantasias... Com mãos de fada que nunca machucam. Inexoravelmente a vida passa: Perdas, ganhos, disputas com a própria vida. E ela, a vida, nos absorve... Amigos que vão, amores que chegam e nos arrancam do chão. O resto é colheita das boas. Que vida é feito solo para ser arado. Planta para ser regada. E precisamos acertas nas palavras... Nos diálogos íntimos que traçamos com os fantasmas que nos perseguem. Se for medo ou solidão, apago-os. E enfrento de sorriso amarelo estas condições que o mundo impõe. Coisas de cidade grande de vez em quando perdem a graça. E até escada rolante vira bicho estranho. Mas a gente vai crescendo, às vezes sem poda. Noutras sem achar graça nenhuma. Algumas morrendo de rir de um teatro que nos envolve e sem querer estreamos. Como se vida fosse reino encantado de novela. E em passos miúdos, sigo rumos que eu mesma traç...

Coisa de Mãe

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Como este ventre gerou o que não me pertencia... Aparo minhas dúvidas como se assistisse meu filho escolher bola de gude. E aprendo a enfrentar as dúvidas dele que tanto me aquecem. Aprendo mais quando estudo com ele. E o Egito me parece tão perto na hora da revisão. Se os vídeos do Yotube não me seduzem... O fazem bastante as gargalhadsa de menino que cresce, rebelde e sagaz. Sou uma mãe que nunca teve avental.... Muito menos pantufas. Sou mãezinha, assim: De misturar atum e arroz e inventar que é um prato mexicano. De inventar lendas e cantar musiquinhas da primeira escola. De dar xodó na hora certa e chorar em horas erradas. Sou mãe e aprendo. Mais que professora. E se erro muito. É que nada, nem manacá, nasce perfeito. A vida me rega e eu cresço com filho. E feito passarinho, aqueço o ninho. E filho cresce comigo. Para Victor 10/05/09

Caduca

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De volta ao altar, ergo as mãos Mas as palavras que me saem, não são preces Calo minha oração enquanto admiro as rugas que me nascem E sonho envelhecer nos braços dele Em seu desvelo, enrolo-me feito novelo E como em sonho, acendo velas pelo porvir Lembro as longas e enrugadas mãos de meu avô Pela manhã rego as mudinhas das plantas E a palavra de amor, viola o silêncio com um telefonema E o dia assim amanhece, com promessas claras E cheiro de bolo frito de tapioca e sal Mesmo se chove as manhãs são claras Cheias de esperanças novas Volto ao altar e ergo as mãos De puro agradecimento, Deus, é feita minha poesia Assim, calma, sem estardalhaço Feito aposta de menino Mas eu queria mesmo era ter mãos encantadas Para aparar o intangível do amor que o céu derruba em mim Aparar e colocar em taças Servir a quem se achega como de costume E essa vida que faz pouco caso de ser entendida É meu valioso dom E ela não é mais minha e nunca o foi somente Ela é teia de um fio maior Tecido dia a dia Hora ...

Será Arte?

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Madame Yvonne Landsberg, 1914, oil on canvas, Philadelphia Museum of Art. Observo passos mudos na neblina Homens sem rosto Apenas um cartão com barra de indicação Será vida? Será parte? Será Arte? Mulheres sem salto. Vestidos rotos. Essa casa não é minha. Essa rua não é minha. Esse silêncio não é meu. Me pertence um grito que ainda não lancei. Um grito de histeria santa. Um grito de alegria que eu nunca mais vi. Dois olhos de serpente lacrimejam. Será sorte? Será morte? Será Arte? Há algo que ainda me locomove de braços erguidos e risos fáceis. O que me acende e aquece e até comove. A pergunta que ainda não fiz. Ando sem pressa e toco em mãos feitas de mármore. Será verde? Será ramo? Será árvore? E amanhã, mesmo na chuva, sairei... Serelepe a buscar flores em meio a arranha-céus Acácias ternas... Verbenas e tulipas num vale qualquer. Mas um desenho rabisca minha mente. Traça pensamentos distantes e inconseqüentes. Será demência? Será clemência? Será Arte? Um desenho pousa uma nave na f...

Decifra-me

Eu sou uma sei lá... Sei cá, sei ali Sou também o que não sei Uma não sei quem Uma não sei o quê Uma sabe-se lá o porquê Eu sou a sobra de tudo que passei Sou a bandeira de todos os recomeços Sou fêmea, mentira e gema Sou a partida e a lágrima lambida Sou o pico do desespero Sou o pincel e a aquarela Sou a tinta azul-verde-e-amarela Sou a caneta e a página em branco Sou o teclado e a tela Sou vários links e formatações Sou o cochilo e o solavanco A sujeira do pé do mendigo que dorme nú Sou a calçada e o banco vazio de uma praça O vestido de Lady Di num leilão Sou o pássaro e o alçapão E nas copas das árvores, meu tapete verde Sou a fome da multidão Sou a esperança sadia da utopia Sou a nevralgia e a solidão E entre o céu azul e o sol que viola o olho que acorda: Decifra-me Salvador, 15/03/03 Breve passagem pelas Flores Mortas do Palhaço

Da Conta de Ninguém

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A gente ama a quem quiser e pronto. A gente ama e não escolhe. A gente ama pela fragância e pela essência, pela barba, pelo duro que a pessoa dá, pelo amor que a pessoa demonstra em olhares, em gestos e em verdade. E doa a quem doer. Eu amo e ninguém tem nada a ver com isso, muito menos com o objeto do meu amor. Já amei e não fui amada. Já amei e me precipitei. Já amei e passei meses me embreagando por um amor não correspondido. O resto a vida me ensinou e não foi soprando não. A vida me ensinou com muita porrada e talho de estilete. Me ensinou a amar sem escolher e aquela coisa do pincípio da isonomia (ria quem quiser) eu levo ao pé da letra. Todos são iguais e pronto. E, no amor, todos são diferentes. Eu amo o joanete dele, os mergulhos filosóficos, a bandeira comunista que carrega na alma. AMO! AMO! AMO! Òbvio que jamais vou trocar a aprendizagem de um amor desses pela dinastia dos bonitinhos. Não quero menininho mais não. Blergh! Quero amor que me leve pra cozinha. Pra fazer sopa s...

CAMINHO

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GUSTAV KLIMT Pode me cortar em lâminas, já não sangro As antigas dores agora saltam em jorros Desdobram-se Multiplicam E em meu peito já não habitam Rodopiam pelo externo E brota em meu caminho um jardim repleto Flores, cores, canções... Pode me amarrar de corda, já não movo Assisto a um desfile de cascatas com águas rubras Os meus sonhos saltam os precipícios do que não ultrapasso E se há dúvida, me abraço Faceira, mineira, feiticeira O começo sou eu O fim sou eu Mas importa, o meio, o ínterim, o caminho. Que ninguém faz sozinho. Vamos de mãos dadas e vidas doadas. Alyne Costa

Insignificado

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Harmony in Red (The Red Room), 1908, oil on cavas, Henri Matisse Não sei guardar poemas Não sei organizar Não sei metrificar Não sei rimar rima com lima Escrevo, assim, num canto qualquer de papel de amendoim torrado, meu verso guardado, moído, transmutado. Jamais insignificado. Alyne Costa

TRIGÉSIMA LEVA DIVERSOS AFINS

Querido leitor, Celebrando trinta jornadas culturais, a Revista Diversos Afins apresenta outras leituras e expressões. Os traços apontam em múltiplas direções: - Nos contornos poéticos de Valéria Freitas , Luciano Fraga , Célia Musilli , Alyne Costa , Mônica de Aquino e Lívia Soares - Numa entrevista com o poeta Antonio Cícero - Nas feições humanas da arte realista de Mauricio Takiguthi - Na densidade das linhas de Mariza Lourenço e Roberta Tostes Outras tantas percepções desfilam aqui: www.diversos-afins.blogspot.com Saudações culturais, Fabrício Brandão & Leila Andrade – LEVEIROS

Guerreiros da Paz

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Salve os guerreiros da luz Salve os guerreiros da paz O tapete de cravos brancos que cruza a avenida E saúda a Rainha do Mar Odoyá Filhos de todas as tribos Gingas de cada lugar Brilham em prata da Lua Branco das ondas do Mar Filhos de Gandhy Filhos gigantes de Yemanjá Odoyá Abram alas Abram os braços Abram as mentes Desatem os laços da dor Reinam por toda avenida Com trajes em azul e branco Agogô, alfazema e colar de contas Que encantam meninas São guias de paz e de amor E seguem serenos, sorrindo Seus hinos são cantos de paz Cantados por todas as raças Cantados por todos os povos Cantados por todas as línguas A bênção dos orixás São filhos de todo esse mundo Que ainda acredita na paz E o tapete branco lava a alma Peles claras e escuras Dentes alvos e estandartes Seguem serenos, sorrindo Gandhys de todas as partes. Alyne Costa 22 de Fevereiro de 2009 “Tem um mistério que bate no coração, força de uma canção que tem o dom de encantar.”

CARNAVAL

Havia um tempo em que alegria era inocência. Atrás da máscara a face da verdade. A sede da liberdade. Soltando amarras. Soltando o riso. Soltando a essência. Hoje, não há máscaras. As máscaras são autônomas, perenes. Hoje a festa busca o capital. E prende a alegria. Segrega o riso. Dilacera a essência. Mas ainda assim, eis a festa. Completa. Real. Viva!!! Eis a festa solitária dos que ainda brincam um carnaval. Alyne Costa 7 de fevereiro de 2002

Porta Jóias

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Eva Yerbabuena, bailarina flamenca Na minha caixinha de música A bailarina dança mal-assombrada Nenhuma jóia guardada Nem sabonete de motel Na minha caixinha de música Alguns alfinetes espetam verdades Antigas cartas de amor Sonetos que nem me lembrava mais Letras de velhas canções Riscos e rabiscos Poemas eróticos Alguns botões. Na minha caixinha de música Canhotos de filmes Cheiro de mofo Frasco vazio de um patchouli Na minha caixinha de música Retratos partidos ao meio Recortes de modelo Moldes de boa menina Receitas de vizinhas Na minha caixinha de música Há um tempo que ainda não passou E mora na saudade. Outro tempo que ainda não veio. Se dilata em ansiedade. Na minha caixinha de música Dobradiças enferrujadas Veludo devorado por traças E qualquer coisa que eu ainda ache graça. Um antidepressivo vencido. E a melodia que atravessa o tempo. Alyne Costa Salvador,13/02/2009

As Diferentes Faces do Amadurecer

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Foto retirada do site: http://kerolasaber.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_10.html Aprendo o quanto amadurecer pode nos proporcionar um enriquecimento de vida. Vida, assim, dividida, sempre nova, fértil, plena, encantadora, mas na qual não podemos apagar as cicatrizes da alma. As marcas das experiências ficam, nos constroem. Antes eu julgava que o coração criava crostas e íamos nos tornando mais resistentes às emoções: mortes não nos causavam tanto assombro, decepções não nos levavam ao chão, as perplexidades diminuíam e a aventura de estar vivo parecia cada vez menos excitante. É claro que amadurecer nos torna fortes e isto não tem nada com a quantidade de anos vividos. Amadurecer tem muitas faces. Amadurecemos muito com os sofrimentos, as perdas, a distância, a saudade, os diversos “pra sempre” e “nunca mais”, mas amadurecemos também com experiências únicas de encontros na vida. Amadurecer não significa perder o encanto pelas coisas que vivenciamos, antes saboreá-los com menos pressa e ma...