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Showing posts from 2011

Lições do Desconnforto

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Uma vez ou outra na vida nos deparamos com o desconforto. Seja ele proveniente de uma dúvida, uma quimera, uma dor física que desconhecemos a origem, uma dor na alma proveniente da sensação de não termos tomado o rumo certo. Nos sentimos meio perdidos na vida, no desconforto da insegurança. Não vemos borboletas, apenas traças que rapidamente destroem as névoas de lembranças boas, de dias felizes e de esperança. E, assim, como quem quebra um osso precisa de ortopedia para superar a dor, necessitamos com urgência ir em busca do nosso nicho, o nosso grande tesouro interior. Um banho quente, uma roupa macia, uma música bela, um por do sol... Uma viagem real ou de sonhos. Lembranças de amigos, reais ou imaginários. Rever aquele filme que tanto gostamos. Entrar em contato com nosso próprio templo e fazermos uma prece. Esquecermos um pouco o rigor e assumir uma postura mais flexível e nos perdoarmos intimamente por maior que tenha sido a burrada porque vida é processo contínuo de aprendizados...

Resgate

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Você me amordaça e me tira a graça... Depõe contra mim. Me estilhaça. Me joga no chão e tripudeia. Como se não tivesse nem sangue na veia. Me cobra dobrado o bem que pensa que me fez. E eu que não sou dama de um baralho. Te deixo jogar sozinho. Me escolhe as vestes, os meios e os fins. E meu grito oprimido é meu silêncio vendido em módicas prestações. Um silêncio que ninguém entende nem quer entender. Um silêncio de mulher que sabe que na hora certa vai vencer. E enquanto você fala para uma palestra invisível eu finjo que não vejo. Eu finjo que beijo. Eu finjo que não sei. E nesse patins sem rodas eu desfilo pela vida. Deixo que me joguem pedras. Deixo que me condenem sem contraditório. Calada, deixo morrer a poesia. Calada, tremo em face ao abismo. Calada, eu já nem cismo. Mas ainda há amor. Um amor que vinga e adormece embora acompanhe sua pasta de notas fiscais... Seus telefonemas em código. Suas fugas para além do cais. Já não tenho medo porque guardo um segredo. Falo em dialeto ci...

Mosaico

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Pieta Penso em traduzir sentimentos. Dores, silêncios, lamentos... A vida? Desenho a giz. Trago uma caderneta de aprendiz. E assim me refaço. Trago novas rugas num sótão de ausência. Não quero regras. Um catavento como referência. Menos cismas e mais paciência. Um bem-te-vi me acorda todas as manhãs. Sem que eu perceba, meu coração se abre em festa. Aparo as arestas. Colo-me em mosaico de tons pastéis. Intensa, me agarro nos momentos. Guardo frases de recordação. Um mapa mundi na palma da mão. Por vezes navego na contramão do previsível. E cochilo à sombra do irremediável. Do sem costume. Do sem jeito. Do bem que sinto e guardo no meu peito. Que se extravasa na amplidão do mar. Alyne Costa

O Amor Sem Bordas

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E eu aprendi a amar um amor sem bordas. E tenho a sensação estranha de que eu não deva desistir. Absurdo ver o amor derramando numa imensa vontade de ser una. Una com essa manhã cinza de um frio fora de tempo. Una com essa vontade de ter a pele dele. ( O absurdo é tão somente o que não aceita um desafio? É apenas aceitar a regra imposta? Como se o dito fosse um rito... O absurdo é não poder mais amar; ) Una com uma vivência mais natural. Una com toda a natureza, com a paz e com a autenticidade de reagir. ( Mas ele é apenas um menino de 21 anos que eu aprendi a amar loucamente, amar cada suspiro dele e cada minuto dessa ausência insana. ). Não há coerência na paixão. Eis sua razão de ser. Mas no amor tudo é coerência, tudo é de uma harmonia sublime. O amor sem bordas sabe não ter rumo certo, sua coerência está na imprecisão, mas ainda assim ele é fértil, manso, quase caipira. E de tão frágil e ao mesmo tempo intenso, vai construindo teias. Relendo antigos versos. Ouvindo as canções mais...

Eu sei...

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Tava querendo brincar de brincadinho..... Eu, assim, de amor assustadinho... De saci pererê, Eu atrás de você! De mula-sem-cabeça: Você quando der, apareça! Mas vc resolveu morar em meus lençóis. Formar em minha mente uns nós! E eu que sou gente que sente, Gente, sabe, assim, meio diferente... Resolvi fugir dos seus laços. Guardando horas pros teus abraços. Eu: Guardo um mundo pra ti! Eu que sou o seu bem-te-vi! Que sempre sobrevivi! Que nunca de amor morri... E você me leva pra Pós... Eu meto isca nos anzóis... Eu arremato o algoz. Sou fera e caçador. Sou fêmea pra toda dor. Eu sei parir sem chorar. Eu sei sorrir sem flutuar. Eu sei amar sem chorar. Sim... Eu sei! Alyne Costa, 8/10/11

A Filosofia

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Como num laço, me desfaço... Não fui feita em linha reta. Não quero seta. Quero um raio de sol e a porta aberta. Abro mão das meias verdades. Já saltei os muros da dor. Corre em minhas veias a solidão que entorpece. Lenitivo e veneno. Caminho seguro da alma que envelhece. E sabe os riscos de saber demais... E a angústia de nada saber. E o que falta é a filosofia... Que me visita a cada dia. No seu olhar de alegria. Alyne Costa 4/09/11

Aprendendo Amar

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Todos os domingos pela manhã ele vai à missa e me convida. Eu não consigo me levantar porque gosto muito de dormir até mais tarde... Aí quando ele volta sempre traz flores e coloca do lado da cama. E essas flores, sempre as mesmas, já compõem a paisagem do meu domingo. Ele faz milagres. Me cura, me salva, me afaga e me beija. Eu sou distraída e tenho o desespero dos poetas. O que machuca a ele dói demais em mim e eu desabo. Porque nessa comunhão de vida, eu pude então conhecer a força de um afeto. Na minha desordem ele acha fotografias, um velho ponche que ganhei de meus tios na infância e me traz de volta o caminho. Mora em mim uma tristeza latente que ele não compreende porque ele é pra fora e eu pra dentro... Ela é discurso e eu silêncio. Ele é meta e eu improviso. Ele é mesa ornada aos domingos, eu bóia-fria... Mas ele é aconchego e eu também... Somos ternura, delicadeza. Ele foi minha mega sena. Ele me deu disciplina. Ele está na minha fundação e eu lhe faço mass...

Dona Culpa

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Hoje amanheci com culpa. Culpa porque ele pediu e eu tirei a roupa, aquela roupinha linda de dona de casa que você me deu... Talvez tenha sido isso, a roupinha era confortável demais e eu gosto de asperezas. Eu sei que você vai querer me colocar no colo e tirar de mim essa sensação ruim e certamente vai jogar toda culpa nele, mas não. A culpa é minha! Não, ele não me tocou, não dessa vez... E eu não permitiria que coisa alguma acontecesse, eu só queria mesmo tirar aquela roupinha de dona de casa em fino estilo. Por isso acordei tão cedo... Por isso não fiz o café... Por isso eu disse te amo como quem pede desculpas. Certa ocasião uma amiga comunista me disse que culpa era um sentimento burguês. Eu aboli culpa de minha vida. Mas hoje ela veio toda saliente, sussurrando em meu ouvido: -Traíra! E eu confesso que temo não ter coragem de olhar aquela roupinha de novo, com suas florzinhas amáveis, seus delicados babadinhos. Roupinha de dona de casa assistir novela! E eu tir...

A visita

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Ele não visitou minha rua esta manhã como há semanas costumava fazer, com seus passos largos que prolongavam a calçada. Não ajudou as velhinhas a atravessarem as ruas com suas sobrinhas coloridas, cujos desenhos me roubavam a sensação de dia de chuva e me transportavam para dentro de suas casas como se me convidassem a tomar um chá e com ela iniciasse diálogos sobre tempos de normalistas, filhos doutores e novas faxineiras. Não parou em frente ao jornaleiro para ler as manchetes e nem comprou um maço de cigarros. Por lá não passou... Não brincou com as crianças que entravam e saíam nos braços e nas mãos de pais e mães nervosas da clínica de emergência infantil. Não pegou a condução e não foi ao cinema. O vendedor de canetas coloridas continuava adentrando todos os ônibus oferecendo seus produtos, motoristas e cobradores também eram os mesmos, mas ele não estivera em nenhum assento. Na missa das 17 horas na capela do hospital o capelão pregava para os mesmos fiéis seu sermão cheio de fi...

Carimbos

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Queria colecionar carimbos. Não se irrite. Não de palpite. Não dê as caras. É brincadeira. Pura besteira. Já basta. Não ligue. Por carta. Por e-mail. Inútil. Perfeito. Superficial. Estreito. Raso. Profundo. Oceano. Mundo. Alyne Costa 8/07/11

Amar Tanto e Até Morrer

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Onde mora a minha dor? Habita o meu silêncio e permeia meus sonhos. Desenha a minha distância nos morros de um caderninho encantado. A minha letra borda em suas páginas correspondências. Cartas de amor. Cartas de despedida. Cartas de boas vindas. Algumas lições de esperança capturadas no olhar da menina de tranças. Onde mora o meu perdão? Nas flores de maio que nascem na palma de minha mão. No meu velório e na minha primeira comunhão. Numa saudade que transborda as veias do coração. Veias e esquinas. Veias e alamedas. Veias e praças repletas de flamboyants. Onde moram meus vícios? Na sede de desespero e riscos. Nas chagas da incompreensão. No abandono e na solidão. Na solidariedade e no dividir o pão. Onde mora o meu amor? No meu olhar que mareja. Na alma que inteira viceja. No corpo que ele beija. E até numa certa agonia... Que persegue noite dia... Este peito de poeta. Que já não reconhece as setas de ser só e uma só ser. E, por tristeza ou quebranto, capaz de causar espanto. Ama tan...

Na Hora da Tristeza

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Tem dias em que a gente amanhece nublada pela nódoa de uma incompreensão qualquer... Nenhum beija-flor aparece na janela, suas certezas todas se rompem e você se recolhe num cantinho da sua insignificância perante o universo e simplesmente assiste. Simplesmente é hora de deixar as preocupações irem embora, talvez acordar com os olhos meio fechados, mas ainda assim procurar seu nicho. Algumas coisas maculam a amizade: incompreensão, preconceito, desrespeito, grosseria, ingratidão, mal entendido, fofoca, intriga, inveja, machismo e um rol imenso que podem trazer sensações de amargura, que trazem aquele gosto de ferrugem na boca e a certeza que seu incômodo é o carimbo da sua diferença. A fé não morre, nenhuma crença, mas você se vê sem suportes e se depara ante a fragilidade dos laços dessa vida. Na amizade não cabe disputa porque amizade não é luta. É muito arriscado brilhar! Mais arriscado ainda é se calar... Certo é que divergências sempre existirão, questionamentos, crises e tudo te ...

Brilho das Estrelas

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Mora no tremor das minhas mãos um sonho... Um sonho que assina com o sobrenome de: Esperança. Do meu sonho não aniquilar nenhum outro sonho humano. Do meu sonho ter par e ter alguém pra dar passos juntos. Pelo sereno das madrugadas... Por deleites entre almofadas... Por passeatas coloridas. Onde todos brilhem na sagrada utopia. Pela qual muitos morreram um dia. Para que estes muitos sonhos ganhassem as ruas, ganhassem voz. Marchassem por todas as formas e expressão da Liberdade: Matriz primeira. Sou poeta e somente compreendo o que o meu amor comporta. A minha luta de poeta também é revolucionária e não é vã. Por vezes é uma luta que emudece... Notras se cala quando pertinente... Tenho ainda por hábito risos sinceros e lágrimas verdadeiras. E, assim, consigo ver o brilho de todas as estrelas! Alyne Costa, 20/06/11 “EU QUERO PODER PRA PODER AMAR!”Tonho Matéria

Poema de Mulher

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Ai, meu poema sem beirais nem cais Que mais nem suporta meus ais... Que é febre quando o corpo ainda não dói. Que é boca seca de palavras belas. Meu poema que trancou as janelas. Para nascer do frio e da escuridão. Do meu peito torto e de aleijão. Do sangue que passeia nas veias. Do copo que escorre das mãos. Ai, meu poema triste... Feito da maior dor que existe. Da histeria e da consagração. Vai meu poema manco. Abre o jornal e lê sobre o assalto a banco. Navega os mares que não existem mais. Beija princesas. Honra rainhas. Mulheres tuas. Mulheres minhas. Ai meu poema chulo. Fala travessuras no escuro. Diz que ama. Diz que goza. Diz que quer. Ai, meu poema de mulher! Alyne Costa 6/06/11

Abraçando o Desespero

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Parecia que andava de patinete por alamedas de um sonho doce. Uma fragância suave de jasmim me invadia e eu tinha vontade de viver de novo aquele viver inocente da infância não essa vida às avessas cheia de pressas e falsas respostas. Eu lia os versos de Manoel de Barros e observava uma tela de Gustav Klimt e tinha uma súbita certeza que algumas pessoas são oníricas e necessárias a existência das outras porque o ser humano sem sonho está fadado a morrer de fome da vida. Eu já havia tentado toda espécie de cura para meu desespero. Confesso que já havia feito consulta a uma médium que me fizera tomar um banho de schincola que me rendeu uma boa gripe, mas a cura não vinha... A minha indignação morava solitária em meu peito junto com um grito preso na garganta, feito feto morto que não saía e minha barriga crescia como se vida havia ali dentro, mas não era vida, era dor. Eu seguia grávida daquela arbitrariedade que tirara o chão e me fazia ter sentimentos ocos que não me agradavam porque d...

Gaiola

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Imagem retirada do Blog http://jornale.com.br/petblog/?p=601 Ainda não sei a cor do caminho, mas vou... Sem pressa, sem medo, sem pacote E se ele estiver em flor, eu abro um sol E se estiver nublado, aparo a queda Eu vou ali comprar um batom Tirar uma medida Tomar uma média E se ele for setembro, eu fevereiro E se ele chorar, rabisco a lua E se ele não for? Eu nem metade E se ele não aparecer? Eu, sim, saudade... E se ele for Caetano, eu canto o Tom E se for amanhã? Eu Djavan... E se não for bem assim? E se não for urgente? E se não for prece? Eu oração.... Eu busco um guia, carrinho de mão... E se era pra ontem? Eu já nem sei. E se acabou? Precipitei. E se ele for saturno? Eu sou de lua... E se ele nem souber? Porra, que intua! E se desistiu? Não leu os sinais? Eu corro atrás. E se for de mármore? Eu, astronave. E se voou? Um novo amor. Alyne Costa Do livro 29 Fragmentos

BLOG PROG BA

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A dinâmica da comunicação na internet atravessa um momento inimaginável. Os movimentos sociais alcançaram escopo dentro da rede e podemos mensurar que ao lado da mídia tradicional temos outras alternativas à sociedade, de fácil acesso e baixíssimo custo. No último pleito eleitoral presenciamos a força dos blogs e das redes sociais no processo, com os políticos buscando compreender e agir neste contexto. Não é exagero algum afirmar que muitos blogs destruíram factóides políticos criados com escopo de prejudicar a candidata Dilma Houssef e a proliferação dos mesmos facilitou o esclarecimento do eleitor, engajando-o melhor na disputa eleitoral. Recentemente estão ocorrendo no Brasil os Encontros Estaduais de Blogueiros Progressistas, tais como em São Paulo e Rio de Janeiro, dentre outros, todos preparatórios para o Encontro Nacional que será sediado ainda este ano em Brasília. Tais encontros, propiciando a vivência e discussão entre os participantes da blogosfera em efervescência, além de...

A Vida

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Meu gato senta em meu colo e sussurra: -A vida é curta... O barulho da motocicleta sugere: -A vida é ritmo... O japonês do balcão segreda: -A vida é lânguida. No velho rádio Gonzaguinha ainda canta: “O que é o que é, meu irmão?” A amiga obstinada chora: -A vida é o choro do filho que eu não pari! O irmão diz: -Relaxe... O poema de Drummond decreta: “-A vida é breve e o amor mais breve ainda.” Mas meu coração... Ai, esse tolo, sem assunto, sem atenção, grita aos meus ouvidos: A vida é ele! Alyne Costa

O Amor Sem Bordas

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E eu aprendi a amar um amor sem bordas. E tenho a sensação estranha de que eu não deva desistir. Absurdo ver o amor derramando numa imensa vontade de ser una. Una com essa manhã cinza de um frio fora de tempo. Una com essa vontade de ter a pele dele. ( O absurdo é tão somente o que não aceita um desafio? É apenas aceitar a regra imposta? Como se o dito fosse um rito... O absurdo é não poder mais amar; ) Una com uma vivência mais natural. Una com toda a natureza, com a paz e com a autenticidade de reagir. ( Mas ele é apenas um menino de 21 anos que eu aprendi a amar loucamente, amar cada suspiro dele e cada minuto dessa ausência insana. ). Não há coerência na paixão. Eis sua razão de ser. Mas no amor tudo é coerência, tudo é de uma harmonia sublime. O amor sem bordas sabe não ter rumo certo, sua coerência está na imprecisão, mas ainda assim ele é fértil, manso, quase caipira. E de tão frágil e ao mesmo tempo intenso, vai construindo teias. Relendo antigos versos. Ouvindo as canções mais...

Hora de Um Café

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E uma absurda felicidade me invadira com o frio daquela manhã. Morava no cinza daquelas nuvens. No rádio que alternava notícias e canções que eu não dava muita importância porque fazia um absurdo silêncio em mim... E enquanto o silêncio reinava eu sentia fome e tive vontade de um café que não veio porque eu tinha preguiça de me desgrudar da coberta. Queria abraçá-la assim pelo resto do dia, deixando na mente reinar fantasia. O telefone tocou, mas quando atendi a ligação caiu e não havia como retornar porque era um número não identificado e nada importava porque eu também não me lembrava qual era a data nem que dia da semana. Não tinha mesmo nenhum compromisso. E nem mesmo aquela preguiça e sua felicidade eu precisava identificar porque nenhuma palavra a traduziria, talvez alguma canção, um hino ou recordação de infância... E entre tanto dormir e acordar eu acabei sonhando com maçãs do amor coloridas o que me trouxe de novo uma fome diferente de nada que existia na cozinha. Era uma espé...

Trilha do Poeta

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Foto retirada do Blog http://malucosevagabundos.blogspot.com O caminho do poeta é trilha repleta de incerteza. E vem recheado de tristeza. E lágrimas do coração. É um caminho de quem vai sozinho levando no peito a multidão. E um caminho que sonha o sonho de toda gente. De ver mundo diferente, fim de guerras e escravidão. Um sonho que vara a madrugada por aquele que segura a enxada... E mata a fome da nação. O caminho do poeta é rio em correnteza... E querer fartura na mesa de cada um seu irmão. É ver poesia na alfabetização. O caminho por poeta vai por tortuosas ruas. Segue em alamedas nuas em busca de compreensão. Com seu canto vagabundo sonhando em ver o mundo de uma vez dar as mãos. Dirão uns que ele delira. Dirão outros de nada valer tanta ilusão. Mas em seu peito triste: Um profundo amor resiste e do sonho não abre mão. Alyne Costa 5/05/11

Sobra de Alegria

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Anjo da Melodia, Acrílica sobre Canson, Alyne Costa, abril de 2011 Seu amor me encontraria mesmo se mudasse o endereço. Inteira. Ainda revirada ao avesso. Mesmo arrombada a porta. O sangue pulsando na aorta. Esse querer que é meu ritmo sublime. Já tem a fragância do meu perfume. Já me arrancou as algemas. Já queimou todos os meus poemas. Eu já virei colibri. Ganhei asas e parti. Dancei entre outras flores. Celebrei outros amores que não mais habitam em mim. Cubro-me em noite fria com a colcha de retalhos da alegria. Aquela que guardei pra mim. Alyne Costa 2/05/11

Estrela Guia

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Aprendi já tarde a lidar com urgências. É que sentimentos não se encontram em lojinhas de conveniência... Ontem meu amor e eu misturamos as lágrimas. Pude então entender a vastidão da compreensão. Não fui feita para pressa, nem desespero. Fui moldada para ter esperança. E quando ela não chega, me encolho. Agasalhada, leio os novos poetas... Novas direções, tantas setas. Sigo-os em busca do sol. A minha veia matriz germina sonhos em pedacinhos de algodão. Lembro da resignação de meus avós. Da fé, da honestidade e das relações de compadre e comadre. O respeito por quem tinha estudo. E qualquer assombro levava-se a dizer: “Misericórdia.” A vida que levou minha inocência, levou também meus assombros. Serei eu a poeta dos escombros? Cantarei o que sobrou? Não, tenho a esperança que me inunda os olhos. Tenho o condão do perdão. E a poesia como estrela guia. Alyne Costa 30/04/11

O Sonho É Meu

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Sonho em dançar um tango... Em deixar este amor totalmente nú. Em deixar as contas totalmente às avessas. Faço promessas pra abandonar os vícios. Mas são eles que por obséquio não me deixam. São resquícios de pó de pemba. Arrumo a mesa. Preparo um arranjo com frutas frescas. Acendo um incenso de sândalo e olho ,admirada, enquanto a janta cozinha na panela. Volto à cozinha e confiro. Quase pronto o ritual, me dispo e me banho, antes uma canção. Fracoise Hardy. Enquanto luto contra os ponteiros do relógio, me perfumo... E entre uns goles de vinho e tragadas no cigarro, chacoalho o tapete da sala. Tudo deve estar pronto. Apago as luzes. Acendo as velas. Um pouco de bom ar, ele não fuma... Minha boca se espuma sorvendo de desejo. Sonhando em dançar tango. De salto, na corda bamba do imprevisto, eu quase desisto quando o interfone toca. Fechem as cortinas. O sonho é meu. Alyne Costa 27/04/11

Quem Não Aprende Com a História...

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Foto retirada do site http://fatosemcharges.wordpress.com/2008/10/24/foto-el-pais-convencao-internacional-de-palhacos/ Tava meio cansada de ter tanta memória. A minha paixão por detalhe me põe em riscos. Porque lembro de coisas recentes e coisas de décadas atrás recheadas de detalhes. Isso pode ser uma espécie de loucura, não sei. O mais terrível é que você convive com pessoas que não possuem a mesma memória, máxime porque costumam se lembrar dos fatos da forma como lhe são convenientes... Daí você fica ouvindo a história toda deturpada se corroendo, deixando o narrador ir longe na fantasia com medo de interferir e horrorizada da potencialidade humana de tecer tramas para se tornar vítimas. Antes eu interferia, dizia não foi nada disso, mas como sempre dava com os burros n’água, desisti. Viva cada um com seu delírio. Recentemente encontrei minha primeira professora no Facebook. Lembrava detalhes dela, da escola, da turma, dos colegas e das músicas que ouvíamos. Eu devia ter de três par...

Nossos Homens Não Foram à Guerra

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Ouçam bem minhas amigas. Nossos homens não foram à guerra, mas estão todos perdidos. Precisam do nosso colo. Da doçura fêmea de nossas mãos... Do cheiro de toalha limpa e sabonete novo. O poder nos cai bem. Fomos feitas para gerar e quando queremos damos ao mundo os guerreiros. Aprendemos a pegar em armas que sequer precisamos usar. Somos fadas, santas, bruxas e loucas. Entendidas de dor. Nos deram manuais, livros de receitas, livros de como cuidar do bebê, romances... Mas de vida, aprendemos sozinhas. De conquistas, aprendemos quando demos as mãos. Somos feiticeiras, detetives, ciganas e bailarinas. Rasgamos os manuais. Nossos homens não foram à guerra, mas estão todos perdidos. Profunda é a paixão. Alyne Costa 22/04/11

Quando a Vida Requer Pausa

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Tenho natureza melancólica, mas nem por isso a alegria não deixa me visitar e quando isto ocorre banho-me na chuva. Tenho paixão por detalhes, miudezas não me passam em vão. Silhuetas, olhares, afagos de gestos e palavras me transmitem muito tanto quanto os sonetos de Florbela Espanca, os filmes de Almodóvar e a voz de Nara Leão. Acredito que fomos feitos para passar pela vida e não a vida feita para passar por nós. Por isso ela às vezes nos requer pausas. Quando entramos na dinâmica louca da vida sem dar a devida atenção às nossas reais necessidades ela nos quebra literalmente porque tentamos ser aquilo que não somos: máquinas. Aí adoecemos sob diversas formas, deprimimos,entramos em pânico, machucamos quem menos gostaríamos de ter machucado, somos surpreendidos pelas mais variadas espécies de desenganos, fazemos uma besteira enorme e temos que precisar parar tudo para consertar o que talvez nem tenha mais remendo. Achamos que estamos enlouquecendo e que não vamos conseguir suportar a...

O Filme Que Eu Vi Ontem A Noite

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Fotografia retirada do blog http://abrigodeventos.blogspot.com Em seu corpo retalhos de uma guerra. Cicatrizes na alma. Aprendera a amá-lo enquanto fazia curativos sobre suas queimaduras. Pouco falava. Lembranças do horror haviam levado a escolher a solidão. Ele aos poucos esculpia na muralha de gelo que a contornava uma flor. E contou que não sabia nadar por pavor a monstros marinhos imaginários. Parei o filme. Um café. Um cigarro. Os remédios homeopáticos. Lembrei de um tempo que eu gostava de roda gigante e de soltar bolas de sabão. A inocência sublimava os temores. Nunca devemos deixar que as marcas de qualquer terror matem uma possibilidade de amor. Liguei o filme. O amor nascia numa plataforma de petróleo. Ele precisou ir para o hospital e ela fugiu. Fugiu para seu trabalho, seu mundo e sua dor. Fugiu do amor. Obstinado, ele a encontra e revela seus desejos. Não havia mais como fugir, o amor havia cercado por todos os lados. Foram felizes... Stop. Alyne Costa 18/04/11

O Sol

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Entre o meio e o todo : o inefável! Entre a sombra e a meia-luz : o sol! Entre o maldito e o indecifrável: a verdade! Alyne Costa 16/04-2011

Quando a Loucura Me Visita

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Fotografia retirada do site http://www.arvores.brasil.nom.br/florin/oiti.htm O meu ofício não é o de mulher educada Trago em mim as chagas das Helenas Romperam-se as minhas comportas E tudo sangra, gota a gota Sentidos e sofrimentos Tudo escorre pelos dedos trêmulos de minhas mãos. Nas madrugadas enquanto todos dormem eu visito a cidade. Numa solitária astronave cor de maçã. Vejo os sem-teto, as damas da rua e os vigilantes da lua. E quando não há lua é só tristeza. Preparo a comida como se faz feitiço. Gosto do cheiro dos temperos que por vezes se misturam às lágrimas. Não, o meu ofício não é o de moça comportada. É o da mulher que chora em dores de parto as injustiças do mundo. Qualquer equilíbrio me desconfigura... A minha loucura avisa de véspera suas visitas. Abro todas as cortinas, lavo a louça, acendo incensos. Bordo pequenas alegrias em lençóis alvos. Para recebê-la me visto de diva. Conversamos, vamos ao cinema, ouvimos canções francesas... Abrimos um vinho, embriagadas rimos...

Aulas Regadas a Dodô e Osmar

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Lembro com saudades dos meus livros de infância. Aqueles de colégio que traziam fragmentos de histórias da Ruth Rocha, da Henriqueta Lisboa e poemas de Cecília Meireles. Não lembro que autor mas nunca esqueço a história de Raquel e sua bolsa, a de uma gatinha que se chamava Face Branca Murmurante e de um livro do Pedro Bloch que contava a história de um menino daltônico intitulado: “Pai, me compra um amigo?” Era ávida por literatura. Nas férias escolares devorava os livrinhos de literatura infantil que a escola pedia e que não dava tempo durante o ano letivo de trabalhar na sala de aula. Frequentava bibliotecas e lia de Monteiro Lobato a lendas sobre o folclore brasileiro. Certa ocasião chegou um grande navio em Salvador e meu pai me presenteou com um livro chamado “Rosinha Chinesa” que nada mais era que uma versão oriental da cinderela... Eu queria morar naquele navio. No início da adolescência: Pollyana, Christiane F, Coleção Vaga-Lume com os enigmas de Marcos Rey, daí cismei que ia...

De Tudo Que Quero Bem

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Gosto de gente de pés descalços, sujos da lama da vida... De ver o arco-íris quando aparece no céu. Dos sem teto, dos sem lei, dos sem informação... Gosto dos idosos e dos loucos de todo gênero. Dos esquecidos nos leitos dos hospitais... Gosto do meu Amor, do meu filho, das minhas vizinhas. Dos vendedores de café... E seus carrinhos coloridos. Do art. 5 da Constituição... Gosto do Lula e do Saramago... De tudo que vibra e transforma. De toda espécie de dança que alguns chamam de Esperança... Gosto dos que acordam cedo para comprar pão. Gosto dos que acordam tarde pra fazer canção. Gosto de desafios e incertezas... Gosto de Miguel Carneiro e de Bemvindo Sequeira... De gente que fala sério, mas que também diz asneira. Mas que faz poesia e um reino de fantasia. E que faz desse Brasil a terra da alegria! Alyne Costa 17/02/11

Para Entender O Porquê de Alguns Partirem Cedo...

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Vivemos incansavelmente, nos entregamos plenamente, amamos, nos expomos, achamos que já choramos tudo, que já estamos prontos, que a vida já nos armou tudo que tinha para armar... Que estamos prontos, aptos, amadurecidos, retadões, que a parcela do bem diário está em dia, que a cada dia que o sol brilha recomeçamos melhor, que já agradecemos a Deus o suficiente por nossos talentos e virtudes, que já pedimos perdão aos irmãos de jornadas por não sermos perfeitos dado que falíveis e humanos... Julgamos já ter dito eu te amo o suficiente, ter entendido o quão complexa é nossa cadeia de relações e assim compreendemos que aqueles que mais nos criticam podem estar socialmente mais adoentados do que nós, e, pior, nem terem se dado conta disso. E na sua frágil inocência nos ferem e abandonam no nosso pior momento. E nós que já nos demos conta do nosso “estado” temos a obrigação de perdoar, compreender e sobreviver, por mais que esta tarefa não seja doce e fácil é, sem dúvidas, o caminho... Nós...

Qualquer coisa eu chamo a menininha...

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Haviam palavras indecisas naquele silêncio forçado. Era a mulher que lavava a louça enquanto ouvia jazz, mas ainda era a menininha que olhava os ladrilhos cerceando os detalhes e procurando formigas. Seu medo morava em maçãs vermelhas perfumadas. Morava nas panelas inoxidáveis que agora brilhavam. Nas garrafas de vinho vazias, agora empilhadas num cantinho da área de serviço e que, cúmplices, não revelavam seus segredos e até pareciam namoradas das diversas carteiras de cigarros vazias. Ameixas podres lamentavam não terem se transformado em geléia enquanto as contas chegavam vigorosas sob o tapete da sala trazendo mais transtorno e latas de cerveja que vazias enchiam o lixeiro e assustavam a moça da portaria. Enquanto o caos parecia bailar o adolescente ruidoso jogava em seu computador noites a fio e gargalhadas assombravam a vizinhança, ao passo que a menininha procurava dar contorno com sua ternura como se doçura pagasse contas. A menininha descia a praça e suas mãozinhas deslizavam ...

Os Quatro Olhos da Escuridão

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Os quatro olhos da escuridão me abraçam Os quatro olhos da escuridão observam meus trôpegos passos Enquanto dura a espera, a vida se esvai... O meu cigarro amigo faz cena de me dar abrigo. Mas meu amor é imenso e não sente culpa. Anjos coloridos levaram embora meu medo. Mora no tremor das minhas mãos um chão de incertezas. E, minh’alma docemente áspera trafega em torrentes de dúvidas. Sou fêmea e ao passo que envelheço, enloqueço. E, assim, cresço, numa imensidão sem fim... Falo dialetos incompreensíveis. Vejo gnomos em jardins que não existem. A minha tristeza usa sapatilha e cobra caro sua existência. A minha tristeza dança em torno de mim. A minha tristeza se embriaga de perfume vagabundo. Passeia pela rua com cachorrinho enfeitado de salão. Esquece a beleza das fotos de Sebastião Salgado. A minha tristeza não lê jornais, nem vai ao dentista. Não tem irmão, prima, tio ou avó. A minha tristeza nunca leu Hermann Hesse. Não conhece o princípio da dignidade da pessoa humana. É déspota e...

Amália, Dilma e a Janela

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Tava cansada de olhar para aquela janela. Aquela mulher pálida e aquela cicatriz q eu via à distância e minhas brincadeiras de adivinhações. O que foi isto? O que terá sido? Acidente? Facada? Assalto? Marido ciumento? Amante do marido? E ela lá... Devia ter também seu enredo para minha vida. Devia saber de cor as cores das minhas calçolas. Minhas intimidades todas. Se assistisse novela, capaz de ter um imaginário bem fértil que lhe desse asas de me achar qualquer coisa: puta, sapatão, maconheira, traficante, e bota coisa no imaginário dela! O adesivo de Dilma na janela me denunciava. Deve já ter feito três abortos. Ainda lembro o dia que me viu voltar da missa e o olhar escandalizado: -Na missa?!?! -Sim, na missa, lá na capela... Olhou-me fixamente e deslizou os olhos pela vestimenta de meu companheiro, como se ganhando fôlego para, enfim, afirmar: -Padre Napoleão não gosta da Dilma! -É, eu sei, mas Jesus gosta! Olhou, meio tensa, procurando conversa pra puxar e eu doida pra saber da c...

Façamos amor, mas façamos arte!

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Volpi O contato do ser humano com uma obra de arte, faz emergir um novo ser. Ninguém é intangível à arte em suas diversificadas formas de manifestação. Não é vista apenas pelo olhar, mas pelos sentidos, captada, ainda que indiscernível, abre fendas, labaredas em todos que com ela se deparam. Cegos, crianças, fanáticos, "loucos", "mutilados morais", se o olho vê a arte, vai além. Segundo o artista plástico Almandrade: "a arte produz efeitos imprevisíveis e é preciso entende-la sem descreve-la". E quem se atreveria a equacionar o seu alcance? A obra de arte transbora a pré-intenção do artista, reflete no espectador, transformando-o num homem novo. Quantas vezes não mudamos, não alteramos as nossas perspectivas perante relacionamentos e fatos após ouvirmos uma canção? E a mesma canção pode nos trazer leituras diferentes acerca da mesma realidade. Não pretendendo adentrar no "mito da incompreensibilidade" da arte e sim a necessidade de utiliza-la com...

Coral de Carolina

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Haveria debruçada em alguma janela Carolina como ela? Carol mais Carolina que aquela? Fez do mundo sua janela e pulando fora dela criou nossa primavera... Arde em Carolina a beleza da sã rebeldia De quem veio para o mundo pra fazer estripulia Vestindo de sabores sua fantasia Alcança como quem dança a arte da sabedoria Pára a natureza no olhar de Carolina Onda do mar, mergulho de piscina Suco de caju, beijo na surdina Carolina temperança, tempestade e confusão Carolina a vida ensina a ter mais compaixão Pois o dia em teu sorriso arrebata um coração Carolina flor menina adolescendo com paixão Carolina que rastafarizou sua trança Carolina que balançou o surfista na prancha Saiu do colégio pela contra-mão Fugiu do mudinho lá da Cruz da Redenção Carol, caroca, cocora Pula qual pipoca Carol do Acupe, da gameleira, de itacimirim Mas sempre Loly, coca-cola com quindim. Alyne Costa